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Crônicas
28/08/2016 - 07h13
Homem superior
Pedro J. Bondaczuk
 

O dramaturgo inglês William Shakespeare, um dos "imortais" em sua arte e integrante daquela elite humana que é responsável pela evolução da civilização, escreveu, em uma de suas peças: "Que grande obra é o homem! Como é nobre em razão! Como é infinito em faculdade! Em forma e movimento como é expressivo e admirável! Em ação como lembra um anjo! Em percepção, como lembra um deus!"

Tenho ouvido muitas críticas a respeito deste trecho. Há quem diga que se Shakespeare vivesse nos dias de hoje, se tivesse conhecimento das duas guerras mundiais travadas no mundo, do Holocausto, dos vários conflitos armados que ocorreram e que estão em andamento, das taras, das baixezas, das corrupções, do terrorismo, da exploração sexual de mulheres e crianças e de violências de toda a sorte, contemporâneas, jamais teria posto na boca de um de seus personagens estas palavras.

Bobagens. Em seu tempo, as coisas não eram melhores, em termos de relacionamento entre pessoas e povos, do que são hoje. Nunca foram na verdade. Mas achar que todos os seres humanos são iguais em suas atitudes destrutivas, afirmar que o homem não passa de fera, a única que mata um membro da própria espécie sem ser por necessidade na luta pela sobrevivência, supor que nenhum ato positivo é praticado sem que haja um interesse pessoal por trás dele, é uma estupidez fantástica. É uma generalização extremamente burra. Houve, há e haverá indivíduos, ao longo da história, para os quais as palavras de Shakespeare são exageradamente modestas, pelo muito que fizeram pela humanidade. Exemplo? O francês Louis Pasteur, cujo centenário de morte completou-se em 28 de setembro de 1995.

Sem a existência, o trabalho, a persistência e o espírito de sacrifício desse homem, a vida na Terra seria muito pior hoje. Foi um iluminado, um incansável, um clarividente, um sábio, um ser especial que "em percepção lembra um deus". Descobriu, por exemplo, o "papel enorme dos infinitamente pequenos", ou seja, os micróbios. Com essa descoberta, revolucionou as ciências e a indústria. Pasteur, que nasceu em Dole, em 27 de dezembro de 1822, dedicou 50 anos de sua vida não a amealhar riquezas, a "furar" os olhos dos semelhantes ou a exercitar uma falsa esperteza, comportamento bastante comum do homem ao longo dos tempos, a ponto de hoje ser tido até como "normal" ou pelo menos tolerável. Utilizou esse meio século para buscar a cura para várias doenças, humanas, de animais e de plantas.

Era químico, não médico. Foi o pai da Microbiologia, da Estereoquímica (química no espaço de três dimensões) e da Imunologia. O processo que inventou para esterilizar alimentos (a pasteurização), impede que epidemias se espalhem, através da comida e bebida, e dizimem o homem da face da Terra. Foi o primeiro a estabelecer regras de assepsia em cirurgia, fazendo com que as operações passassem, de fato, a salvar os doentes e não a matar, como ocorria até então, em decorrência das infecções. Suas descobertas revolucionaram a química, a agricultura, a indústria, a medicina e a higiene coletiva. A seu respeito, o inventor da penicilina, Alexander Fleming, afirmou: "Sem Pasteur, não seria nada".

O que me diz, agora, o leitor cético sobre as afirmações de Shakespeare? São ou não são exageradamente modestas para qualificar Pasteur? "Bem", dirá o sujeito amargo, alienado às avessas, que vislumbra o mal em tudo e todos (porque este, certamente, habita o seu coração), "esta é uma exceção". Seria mesmo? O que dizer, por exemplo, do gênio de um Leonardo da Vinci? E de um Jonas Salk? Ou de um Christian Barnard? Ou de Madre Tereza de Calcutá? Ou de milhões de tantos outros, através dos tempos, em várias partes do mundo?

Seria possível passar horas e horas falando de pessoas que, se não tivessem existido, aí sim saberíamos o que é de fato um inferno. E qual o lugar que destinamos a esses seres iluminados em nossa lembrança? Que gratidão lhes tributamos? Leiam as manchetes do dia 28 de setembro de 1995, ou do dia 28 de dezembro, ou dessas duas datas dos últimos anos, ou mesmo as notícias internas, ou quem sabe as notas de pé de página de jornais e de revistas. Leram? Onde se falou de Pasteur?!


Nota do Editor: Pedro J. Bondaczuk é jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance Fatal” (contos), “Cronos & Narciso” (crônicas), “Antologia” – maio de 1991 a maio de 1996. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 49 (edição comemorativa do 40º aniversário), página 74 e “Antologia” – maio de 1996 a maio de 2001. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 53, página 54. Blog “O Escrevinhador” – pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk

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