Parece que existe uma atração incontrolável do Brasil pelo atraso. A história registra vários exemplos do país escolhendo as opções erradas e andando na contra-mão das tendências mundiais, quando não adotando idéias e experiências ultrapassadas, no momento em que o mundo desenvolvido as descarta. O exemplo atual mais genérico é o da opção pelo socialismo, a partir da Nova República, no final do século XX, quando o mundo acabava de provar a inviabilidade deste sistema, ao mesmo tempo em que o (neo)liberalismo triunfava. Com a era Lula, esta idiossincrasia tupiniquim atingiu um clímax jamais imaginado. Tamanhos são os descalabros da atuação do governo que nem a blindagem protetora da nossa imprensa (de viés predominantemente esquerdista e, em grande parte, refém dos milhões do Gushiken e do PT) tem conseguido deter a onda de críticas e deboches, ensejada pelo besteirol e a corrupção explícita. De fato, diversos cronistas e alguns veículos de comunicação têm apontado com muita sagacidade as conseqüências nefastas que tais falhas inevitavelmente acarretam. Até o Arnaldo Jabor - histórico militante comunista - agora revisionista, parece que já não agüenta mais o bolchevismo fora de moda do PT. Constrangidamente se esforça para mostrar que se divorciou da foice e do martelo, pois atualmente pega mal exibir este emblema. O lado bom dessa "miséria espiritual" é que o material começa a dar sinais de fadiga e os "podres" estão vindo à tona. Pode ser que daí surja "vida inteligente" com massa crítica para re-moldar a opinião pública, ou pelo menos parte dela, quebrando a hegemonia cultural gramsciana que vem sendo, homeopaticamente, edificada no Brasil há muitos anos e que pouquíssimos dos vitimados são capazes de perceber. Numa aparente reação à overdose de esquerdismo besta, a "sociedade civil" parece começar a acordar da anestesia, tamanha a dor que os "cirurgiões sociais" estão impingindo ao paciente. Este artigo relaciona alguns pontos notórios do atual contexto, adicionando comentários e reflexões com vistas a estimular o debate: 1. Política externa Não bastasse termos a Constituição dos Miseráveis, que garante ingovernabilidade à federação, agora temos também a "Diplomacia dos Miseráveis". Não pode ser séria uma política externa terceiro-mundista. Nada contra Oriente Médio, África e América do Sul, mas não é nestas paragens que se encontram os exemplos virtuosos para com eles nos alinharmos e, muito menos o principal: o dinheiro do qual precisamos! Para piorar, somos lenientes com o dragão chinês. É preciso entender que no xadrez global a China é adversário e não "amigo". Podemos e devemos fazer negócios com os chineses, mas precisamos ter em mente que a China não está aí para nos ajudar. Reconhecer a China como praticante da "economia de mercado", apesar do flagrante dumping e práticas desleais de concorrência é de uma ingenuidade tão cândida, que só a cegueira ideológica dos nossos dirigentes e dos barbudinhos do Itamaraty pode explicar. Pedindo perdão pela comparação chula, mas pela semelhança, bastante apropriada, mais ou menos estamos diante daquela história do "só a cabecinha", em que apenas as meninas ingênuas e apaixonadas "acreditam". E ainda temos o "eixinho do mal", (ou seriam os três patetas?) Chavez-Kirchner-Fidel, alegremente promovido pelo "estadista sem pecado", Lula da Silva. Em resumo, a busca da liderança numa segunda ou terceira divisão do "campeonato mundial" é um evidente sintoma de indigência mental e, se tudo der certo, não nos levará a lugar nenhum. O problema é que as chances de dar certo são ínfimas e, se der um pouquinho errado, o prejuízo já será enorme, em termos de oportunidades perdidas e dano de imagem. Importante é ressaltar que o Brasil está desperdiçando um tempo precioso na corrida pelo desenvolvimento, enquanto o restante do mundo e o comércio global crescem, numa conjuntura internacional favorável, raramente vista. A miserável política externa está obcecada pela inclusão do Brasil no Conselho de Segurança da ONU. Falta-lhe a percepção de que, para se fazer respeitar, o país precisa ser forte em todas as esferas do poder nacional. Jamais se conseguirá tal objetivo através do confronto com os EUA que, quer gostem ou não os demais países, é quem manda no Conselho: eles têm o dinheiro e a força. A liderança que o presidente Lula procura construir, baseada em politicagem internacional, arroubos messiânicos e demagogia planetária (fez campanha até para o papa brasileiro) é artificial e inócua. Melhor faria se trabalhasse (ah!..., desculpem-me, mas não inventaram sindicalista para trabalhar) para tornar o Brasil um país sério, culturalmente sólido, economicamente eficiente e militarmente forte, dissuasivo. Pela dimensão territorial e populacional, atrairia de forma natural a tão almejada liderança regional e talvez o respeito mundial, que eventualmente até poderia qualificar o Brasil não apenas para o Conselho da Segurança, mas para um G-10 etc. 2. Fome Zero De inspiração francamente populista, somente destinada a captar e utilizar a simpatia e as paixões populares, este programa é nati-morto. Tecnicamente mal conceituado, simploriamente planejado e operacionalmente mal executado, nada mais é do que um campo fértil para a corrupção. E, além disto, é ineficaz porque se fixa na pobreza. Não tem um objetivo bem definido, não tem início, meio e fim. O programa depende da miséria para existir e cria dependência dos pobres para com o governo. Nada que crie dependência é libertador da pessoa humana. Melhor seria criar um programa "Abundância Mil", que buscasse a produção da riqueza e pudesse criar condições de progresso auto-sustentável para os mais necessitados. 3. Apego à "Burrice" Em que pese não ser politicamente correto chamar um ignorante de "burro", segundo a cartilha preconizada pelo ilustre Secretário de Direitos Humanos (cujo nome quase ninguém lembra), a "era Lula" representa um louvor à ignorância e um desprezo pelo conhecimento e a erudição. A preferência do presidente pelo improviso nos discursos reflete seu estilo de "trabalho". A metáforas primárias e de mau gosto ele adiciona declarações grosseiras, como a de levantar o traseiro contra os juros, indicando a já aludida miséria espiritual. Cultura é confundida com arte popular, haja vista o ministro escolhido para esta pasta e os projetos em que se engaja, tanto no Brasil como nos seus "shows", mundo afora. Infelizmente, em plena sociedade do conhecimento, era da informação e todas as maravilhas do progresso do mundo atual, entramos num período obscurantista em que é chic ser "burro". Lula até ostenta um certo orgulho de sua condição de ignorante, como se, professoralmente, estivesse ensinando que "não é preciso estudar para chegar lá". As autoridades, tanto quanto as celebridades, não têm bons exemplos a nos dar. A reforma universitária proposta pelo ministro Tarso Genro, de cunho totalitário, é um bilhete expresso para o atraso. A miséria não é só espiritual. É também mental: um caso a ser incluído e estudado na patologia psiquiátrica. 4. Assembleísmo Petista Com o aparelhamento do Estado e autarquias por sindicalistas e outros "cumpanheiros" do partido, politizou a mais que burocratizada administração dos órgãos públicos e empresas estatais. Dirigentes, alheios ao ramo, são incapazes de tomar decisões executivas, principalmente sobre assuntos técnicos. Por isso, perdem-se em intermináveis discussões estéreis, grupos de trabalho, conselhos e disputas políticas localizadas. Resultado: paralisação de ministérios, projetos, órgãos públicos. Ou seja, infra-estrutura agonizante, "apagão logístico", caos na Saúde, Educação, Segurança etc. 5. O rumo da coisa Embevecidos com o sucesso nas urnas, ao melhor estilo "de quem nunca comeu melado...", os petistas se assanharam com o poder. Aparentemente achando que "a onça morreu e o mato agora é nosso" e confiantes na hegemonia cultural, o PT começou, avidamente, a realizar o aproveitamento do êxito após a vitória na eleição presidencial de 2002. Nesta linha se inserem a tentativa de criação da Ancinav, do órgão de controle do jornalismo, da cartilha politicamente correta, entre outras ações totalitárias visando o controle absoluto da cultura e da informação. A sociedade reagiu e algumas vozes se levantaram no jornalismo contra a inclinação do governo para o stalinismo, forçando-o a aceitar limites, por enquanto, dando um passo para trás e esperando outra oportunidade para dar dois para frente e prosseguir no seu determinado rumo ideológico. Nesse esdrúxulo contexto, a eleição de Severino para a presidência da Câmara dos Deputados foi um mal menor, para não se dizer uma "bênção dos céus". Severino representa um limite ao absolutismo do PT e, se os objetivos que o movem nada têm de nobres, ao menos ele já nos poupou de mais um aumento de impostos (MP 232) que, facilmente, seria aprovado se o partido do governo continuasse impondo a pauta do Congresso. Além do mais, Severino teve o aval do Planalto para nomear uma meia dúzia de parentes e cabos eleitorais, enquanto Lula inchou a máquina do Estado com milhares de parceiros petistas e apaniguados. Com cerca de 70% do mandato cumprido, sem apresentar os resultados milagrosos prometidos pelo discurso de campanha - somente esperados pelos ingênuos, despreparados e/ou idiotas -, começa a cair o quase unanimismo a favor do PT, o que já sinaliza como um renascimento da inteligência coletiva. Não é à toa que Lula e seu entourage vêm ganhando espaço na mídia e inundam a Internet, com caricaturas e piadas. Muitos antigos simpatizantes, principalmente porque estão lhe doendo os bolsos e percebendo que periclita a sua liberdade, vêm declarando a sua decepção. A aceleração do processo de extinção do motor maior da sociedade - a classe média -, protagonizada mais disfarçadamente por FH, agora está tão escancarada que começa a "cair a ficha" deste segmento social, na justa medida em que vai percebendo que está sendo rebaixado na pirâmide social. Daí projetam-se duas possibilidades: 1. O governo Lula, encrencado em suas próprias contradições e ineficiências se desgasta diante da opinião pública, leva uma surra nas urnas em 2006 e o próximo governo realiza um choque de gestão. Aliás, pouco provável diante da popularidade pessoal de Lula junto à grande massa ignara que, exatamente por esta qualidade, com ele se identifica num universo marcado pela ausência de candidatos e partidos dispostos a lutar contra a máquina eleitoral petista, bastante enriquecida com as contribuições dos "cumpanheiros" nomeados. E tudo isso é reforçado pela crença generalizada no "tudo pelo social" que impede o choque de gestão. 2. "Queimado" diante da classe média e sem ter "produto para entregar", Lula faz uma opção preferencial pelos pobres, que ainda vêem no presidente caricatural e empático um símbolo da possibilidade de "chegar lá". Neste cenário, Lula imolaria Palloci, símbolo da racionalidade, e buscaria apoio popular nas massas de sem teto, sem terra, sem emprego, sem vergonha etc., partindo para uma linha Kirchner-Chavista com todo o potencial destrutivo que ela encerra. Palloci só está lá porque Lula precisa chegar em 2006 em condições de disputar a re-eleição. Não pode deixar o país "explodir" antes. Depois, não fará para ele muita diferença e o lobo poderá sair da pele de cordeiro. Será o mais profundo mergulho no atraso, nunca visto neste país, no qual foi posto um "respeitável público", como compensação às calamidades que castigam outros países. Quem viver verá. Nota do Editor: Jorge Luiz Baptista Ribeiro é engenheiro metalúrgico e pós-graduado em "marketing" pela Fundação Getúlio Vargas.
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