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Opinião
18/09/2016 - 05h19
Eu menti sobre a meritocracia
Anderson Fernandes
 

Odeio mentir sobre a meritocracia. Aquela em que a ascensão profissional ou social depende exclusivamente do seu esforço individual. Nesta semana, durante um evento, um estudante do Ensino Médio me questionou quanto ao tema e a minha vontade foi de gritar: “É uma cilada, Bino!", no estilo Antônio Fagundes do seriado “Carga Pesada”. No entanto, o incentivei a continuar lutando, correndo atrás dos seus objetivos, porque como disse Mahatma Gandhi: “Nas grandes batalhas da vida, o primeiro passo para vitória é o desejo de vencer”.

Porém, depois em casa, fiquei pensando como aquele jovem, de escola pública, poderia competir igualmente com pessoas que nascem com melhores condições financeiras, com acesso às melhores instituições de ensino e contatos profissionais exclusivos. Logo ele, que sonha em cursar Medicina, mas desde janeiro não tem aulas de Física e Química (professores de licença médica) e na disciplina de Inglês, não consegue absorver nada.

Há alguns dias estive em um colégio particular, em São Paulo, para conhecer a estrutura da unidade de ensino e para consultar o resultado de uma Gincana Cultural. Fiquei impressionado com a excelência cultural e educacional oferecida no local. Educação levada a sério com o único objetivo de “desenvolvimento humano”.

Durante a apresentação do colégio, o professor coordenador da unidade explicou que no Ensino Médio os alunos contam com uma sólida preparação educacional para os grandes vestibulares. Eles têm ainda à disposição acompanhamento psicopedagógico, plantão de dúvidas, simulados, orientação profissional que dá condições aos estudantes de concorrerem com sucesso a qualquer processo de seleção no Brasil (Fuvest, Unicamp, Unesp, Unifesp, Enem, entre outros) e em outros países, já que muitos alunos da instituição já foram aceitos pelas mais destacadas universidades do mundo como Harvard, Stanford University, New York University, entre outras.

Porém, para fazer parte do seleto grupo deste colégio ou de qualquer outra instituição educacional do mesmo porte no Brasil, é preciso estar disposto a pagar um valor que fica fora das condições financeiras da maioria das famílias, levando em consideração que no País aproximadamente 70% delas tem uma renda mensal de cerca de R$ 2000.

Neste cenário, quando um jovem humilde, batalhador, de escola pública, me pergunta sobre meritocracia, o certo seria eu explicar a realidade. Que ele vai disputar vaga nas principais universidades do País com gente muito melhor preparada e que a chance dele ter sucesso nesta empreitada é muito pequena ou quase nula. E que provavelmente essas pessoas também vão ocupar posteriormente os melhores cargos em concursos públicos e nas grandes empresas. Deste modo, vai sobrar muito pouco para ele e o que restar certamente não é do seu desejo ou sua meta.

Mas uma coisa que a vida me ensinou é que gente motivada supera barreiras e faz coisas impossíveis se tornarem possíveis. Como explicar o caso de Thompson Vitor, de 15 anos, que com livros achados no lixo foi aprovado no Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN) para cursar Multimídia. Ou a história de Joaquim Pereira, de Goiás, que engraxava sapatos para pagar a faculdade de Direito e hoje trabalha em um grande escritório de advocacia. E ainda a superação de Júlia de Oliveira Campos, filha de agricultor no interior de Minas Gerais, que estudava 12 horas por dia para ser aprovada em Medicina e acabou conseguindo vaga em 12 universidades.

Ou seja, não tenho o direito de podar o sonho de nenhum jovem. E sempre que for necessário mentir sobre meritocracia vou fazer, mesmo odiando falar bem de algo que não acredito. O sistema imposto para grande parte da população deste País é “bruto”, não existe almoço grátis, tampouco lugar ao sol para todos, mas se tem gente disposta a transpor barreiras, eu vou apoiar, incentivar e ficar na torcida para que determinados limites sejam superados.


Nota do Editor: Anderson Fernandes é jornalista, autor dos livros Entre Quatro Poderes e Nocaute e coordenador do projeto Vida Literária.

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