A falta de policiais é recorrente no estado de São Paulo. Nos últimos dias o destaque tem ocorrido em relação à Polícia Civil, mas todos do meio sabem da existência de milhares de “claros” nos quadros da Polícia Militar. A primeira conseqüência dessa falta de investimento do Estado em suas polícias é a sobrecarga de trabalho que se coloca sobre os insuficientes componentes dos quadros das delegacias, distritos e unidades militares. Cada policial é obrigado a se desdobrar para executar a tarefa de dois ou três e, evidentemente, não consegue resultados tão bons quanto se fizesse apenas aquilo que lhe é fisicamente indicado. A partir daí, o prejuízo é da sociedade, que vê a escalada criminosa avolumar-se e diminuir o grau de resolutividade da máquina policial. Viaturas demoram para chegar às ocorrências, o atendimento nas repartições é moroso e a solução de crimes diminuta. A guerra civil não declarada oficialmente é uma constante na vida das pessoas. Além de cercar de grades suas moradias e ter de tomar muito cuidado ao entrar e sair, as famílias ainda vivem o drama de ter o crime ao seu redor. Pessoas são despojadas de seus valores nas saídas de bancos, têm seus veículos roubados em pleno trânsito urbano e não vislumbram contornos de solução para os problemas. Policiais são caçados pelos marginais e, via-de-regra, a classe ainda é acusada de cometer violência. Na verdade, perdemos a sustentabilidade e o crime conquista território. Há quatro anos o governo paulista não concede aumento de salários aos policiais. Há muito tempo recorre a abonos que socorrem temporariamente parcelas da classe e não resolvem o problema. Instituições fundamentais, como o Hospital Militar, estão sucateadas e só não entram em colapso porque as entidades de policiais contratam médicos, adquirem equipamentos e assumem outros compromissos que, a rigor, são do Estado. O governador Geraldo Alckmin precisa, com toda urgência, voltar suas vistas para a situação a que os sucessivos governos do seu partido levaram as polícias estaduais. Não basta dizer que o Estado se encontra no limite do seu desembolso com pessoal. É preciso redefinir prioridades e buscar, onde for possível, os recursos para evitar que a guerra urbana da marginalidade torne São Paulo inviável. Segurança Pública é responsabilidade do estado e precisa estar à altura das necessidades. Infelizmente, São Paulo, o estado mais potente da federação, vem perdendo diuturnamente a sua estabilidade porque não consegue conter o crime. É preciso mudar com toda urgência, até porque policial não é um profissional que se encontra em qualquer lugar pronto para a contratação. Antes de colocá-lo para trabalhar é preciso treiná-lo, o que custa dinheiro e leva tempo... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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