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SEÇÃO
Crônicas
25/09/2016 - 06h00
Navalha rara
Dartagnan Ferraz
 

Sempre coloquei a amizade acima da ideologia e posições políticas. É interessante a amizade sincera, ela separa e isola o que divide as pessoas. Isso acontece naturalmente. Mais: quando há respeito chega-se até a conversar civilizadamente sobre nossas diferenças, e numa boa, a coxinha pode e deve conviver com a mortadela, basta haver respeito.

Conheci um velho de quem me tornei amigo que fora na sua juventude um empolgado integralista, camisa verde. Convicto. Ele nunca renunciou às suas idéias enquanto viveu. O que nos aproximou? O Sport (time pernambucano), Agatha Christie, Sherlock Holmes e uns seriados da tevê em preto e branco chuviscando, Havaí cinco zero e Missão Impossível. No tocante aos livros passávamos horas conversando sobre eles. Depois, juro, ficamos no mesmo lado político, o velho MDB, isso porque a família do velho tinha um candidato a prefeito. Então íamos juntos a todos os comícios, mas sem esquecer de assistir numa farmácia onde tinha um televisor os seriados.

Um dia o velho me convidou para ir a casa dele. Fui. Lá tomamos umas lapadas de Pitu tirando o gosto com carne de sol assada e ele começou a me contar seu tempo de integralista, as marchas, passeatas, comícios. Ele chegava a repetir palavra por palavra discursos de líderes que vinham à cidade, graúdos camisas verdes. A cidade fora um núcleo importante do integralismo em Pernambuco. Fui outras vezes, e ele sempre contava mais causos sobre integralismo. O que eu admirava nas suas narrações era a convicção e a pureza de sentimentos. A mesma que vira de comunistas em minha terra. Não era ambição, fisiologismo, vantagens, mas idéias, mesmo que pudessem ser erradas, mas eram idéias, o velho era um idealista.

Certo dia ele se emocionou e me mostrou as suas lembranças do movimento integralista. Primeiro foi o álbum, depois com orgulho me mostrou a camisa verde, já toda puída, mas que ele guardava com carinho. E por último, abriu o cofre, e de lá retirou o que tinha dentro, apenas uma caixinha, abriu-a e com os olhos marejados retirou uma navalha e disse: - Foi com esta navalha que um barbeiro da cidade fez a barba de Plínio Salgado quando esteve aqui na nossa terra, o barbeiro era do movimento e me deu ela de presente. E com cuidado recolou-a na caixinha e botou de novo no cofre. Alguém pode achar ridículo, eu não achei, fiquei respeitando ainda mais o velho.

Respeito as idéias. Inté.

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