— Maria! Vem almoçar! — Já vou, dona Carulina! Só cabano de enxugá o banheiro. — Faxina dá fome, Maria. Tem que repor as energias! — E é memo, dona Carulina, meu estamo tá lá nas costa. — Tô falando! Vem cá que eu fiz abobrinha. — Ô trem bão! Essa abobrinha da senhora é mió que carne, uai! — Então vem comer, enquanto tá quentinho... — Péra aí, vou ligar o radinho. — Radinho? Cê trouxe o radinho, Maria? — Pra escutá as nutiça, uai! Sabê das novidade, né? — Ah, cê gosta das novidades né? — Gosto memo! No jornal do mêi-dia, o moço da rádia fala tudo! — Então vem comer, Maria. Depois cê descansa e escuta seu radinho. — Óia aqui, dona Carulina. Tão falando que assaltaro um magazine no centro da cidade! — Nosso Deus, Maria! Mais um? — Pra sóra vê! Que mundo é esse que nós tá viveno, hein? Só morte, assalto, droga... — Verdade, Maria. A coisa tá cada vez pior! — Sem contá as bandaiêra das política, né, dona Carulina? — Ih, essas nem me fale! — Pois é, tiraro o Duardo Cunha, a sóra viu? — Vi sim, Maria. Até que enfim, né? — É, mais se fosse essa a questã... Ich! É trem demais errado por aí... — É sim! A cada dia a gente se espanta mais! — Pra sóra vê... O PCC matô o rei da frontêra do Paraguai. Mexida de contrabando. — Puxa! Que isso, Maria! — A sóra num viu, não? Mataro, e o Sirviço de Inteligênça descobriu mais coisa... — O Serviço de Inteligência? — É, eu só num sei se é o Serviço do Brasil ou do Paraguai. — Jesus! E descobriram o quê? — Dona Carulina, eles descobriro que tinha uns plano pra matá o Maduro. — O Maduro? — Isso memo! Dêva sê que é algum bandido pirigoso na tramoia... — Ah, só pode ser algum bandidão mesmo! Matar o Maduro, hein? — Eu num falo sem sabê... Mas tenho pra mim que é o Fernandinho. — Fernandinho? — É! O Beira-mar! Ele é valentão, a sóra num sabe? Dêva sê ele... — Ah, Maria! Será? — Mais óia bem, dona Carulina! Esse Fernandinho era pra tá solto, era? — Uai, Maria, Beira-mar tá solto? — Ah, dêva que sim! Chefão de bandido fica preso? A lei é munto fraca, dona Carulina! — As Leis, nem sempre são cumpridas, né, Maria? — Se o Exércio quisesse prendia tudo, a sóra sabe, né? — É? — Craro! Mais num prende pur quê? Bandido é tudo macumunado com poderôso, uai! — Maria! — Ih! Tem trem demais escondido debaixo dos pano! A sóra nem magina o mundo de coisa que eu sei! Hum... mais essa abobrinha! Vai sê boa pra lá, hein, dona Carulina?
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