Fiz parte na adolescência de uma corriola que aprontava muito. Infelizmente, por causa da fama, não participava das armações mais perigosas. Uma delas era encurralar os bêbados de madrugada, uma parte ficava num lado da rua e outra no lado oposto, então com voz de falsete a gente começava a insultar os bêbados: - Bebinho safadinho! Bebinho fela da puta! Bebinho viado! Quando o bêbado tentava correr para o lado que vinha a voz a outra turma acunhava, ele ficava desesperado, mas acontece que havia os bêbados valentes que insultados ficavam bons e então corriam atrás da molecada, alguns sacudindo pedras e bandas de tijolos. Um perigo. Também ficava de fora da "serração dos velhos", perto da semana santa. Era ainda mais perigoso, um véio certa vez deu um tiro que quase pega num dos moleques. Ele gritava: - Véio pra quem tu vai deixar a tua véia gostosa? Ô véio tá chegando tua hora. Que é que tu tá fazendo se não trepa mais veião? Morre logo, e deixa a véia para os outros... A maioria nem ligava, e a polícia logo aparecia ou os guardas-noturnos e botavam a molecada pra correr. Mas houve um fato diferente. Numa casa de um sujeito não muito velho, devia ter uns 60 anos, um cara calmo mas muito respeitado, a turma resolveu serrá-lo. E começaram a latomia, castigando que ele estava fraco para cuidar da mulher. O cara abriu a porta e chamou a molecada para tomar uns guaranás e comer bolo. Bem calmo, todos foram, sentaram, a mulher do sujeito botou bolo, guaraná, e então o cara olhou para o chefe da patota, um moleque conhecido e temido e disse: - Conheci a sua voz, mas acho que você está enganado, eu não estou fraco coisa nenhuma, pode perguntar aí a minha mulher e pergunte também a sua mãe porque eu trepo com ela toda semana. Você devia serrar era seu pai que não está dando conta da mulher, e começou a rir. Nunca mais ninguém serrou o cara. Nenhum de nós comentou o caso. Amigo é amigo. Mas o que o sujeito disse, segundo soubemos depois, era verdade. Inté.
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