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Crônicas
05/06/2005 - 07h01
Presidente, assuma logo o chavismo!
José Sergio Rocha
 

Na próxima eleição deviam introduzir na urna eletrônica mais um item de votação: "Conselheiro do presidente da República". Um cargo que não terá nem 0,0001% da verba não alocada de uma diretoria que fura poços, mas será mais importante do que todos os ministérios somados.

Meu candidato para esta anti-sinecura é o senador Tião Viana (PT-AC). Apesar de morar em Brasília, Tião Viana não vive na Ilha da Fantasia. Corajoso, competente, lúcido, o parlamentar eleito pelo Acre foi a melhor fonte do jornalista Raymundo Costa, autor de um primor de texto publicado em 24/05 no Valor Econômico, sob o título "Opção preferencial pelos 300 picaretas".

Diz o senador acreano que:

• embora não duvide da formação democrática de Lula, está convencido de que ele nutre um "certo desprezo" pelo Legislativo. Aspas do senador: "Lula, sem dúvida alguma, teve dificuldades para se adaptar a esta relação".

• identifica um defeito de origem na composição da coalizão governista em razão de sua opção preferencial pelo fisiologismo. Mais aspas: "O Congresso não é uma casa de pedintes (...) O presidente deveria ter se aproximado pelo bom caminho, não pelos defeitos, mas pelas virtudes dos partidos (...) Não sabendo conviver, (Lula) menosprezou os bons aliados que poderia ter arregimentado e começou a perder votações".

• a culpa é do presidente da República por ter arranjado os aliados que arranjou. "É um desastre, uma tragédia (...) Desgasta a imagem dele. A gestão vai bem, a macroeconomia vai bem, projetos começam a apresentar resultados. O risco é a política. E a culpa é do presidente da República, que pode determinar o que tem de ser feito".

Como se vê, partiu do chamado "Campo Majoritário" do governo Lula - sim, senhores, o senador Tião Viana está a léguas de distância de um Babá - o petardo mais certeiro contra as distorções que a leitura tatibitáti de governabilidade provoca em um governo que foi democraticamente eleito, mas só ouve quem o apóia incondicionalmente.

O fisiologismo, o toma-lá-dá-cá de cargos, não dizem respeito apenas ao presidente e a seus aliados mais vorazes. O "dindim", o "faz-me rir", a propina são pagas por toda prole da Viúva.

Criado com a pretensão de ser um partido "diferente de todos os outros", o PT mudou muito e já perdeu há tempos aquela militância que fazia boca-de-urna gratuita e se orgulhava da estrelinha vermelha na lapela. Mas é uma marca consolidada e ainda merece respeito. O fisiologismo que hoje se pratica caiu na boca do povo. O que ainda salva a legenda é manter em seus quadros gente como o senador paulista Eduardo Suplicy e o deputado carioca Chico Alencar, ambos votos declarados a favor da abertura da CPI dos Correios.

O episódio dos Correios não deveria ser descrito como uma palhaçada em respeito à memória do palhaço Arrelia, que era um homem de bem. Mas foi palhaçada, sim. A "confissão" do diretor de contratações dos Correios zombou da inteligência de qualquer pessoa medianamente alfabetizada. "Eu disse coisas que não devia dizer, iludido em minha boa-fé sem saber que estava sendo filmado". Nem Arrelia arrancaria tantas gargalhadas quanto esta confissão fez brotar, país afora, de milhões de telespectadores.

Pior ainda foi o dia seguinte. Depois de toda as bravatas, do solene anúncio de que assinaria o pedido de CPI e entregaria todos os cargos do PTB, o homem forte do trabalhismo de resultados abriu um sorriso de orelha a orelha e voltou atrás na promessa, por ter sido "inocentado" das acusações. Inocentado por quem, cara-pálida, se a função ainda nem começou no picadeiro?

É nisso que está dando a "opção preferencial pelos 300 picaretas", que deu o mote e o título da matéria de Raymundo Costa, o toma-lá-dá-cá que distribui a diretoria que fura poços, a diretoria dos planos de saúde e outras funções que devem ser preenchidas por técnicos tarimbados, não por aspones apadrinhados.

Se, no entanto, ouvisse mais grilos falantes como o senador Tião Viana, o presidente se cercaria melhor de colaboradores de seu próprio partido e faria melhores alianças. Com exceção de alguns agrupamentos que ainda pensam o país tendo como parâmetro a Rússia de 1917, os melhores aliados para uma tentativa de projeto estadista talvez se encontrem na oposição mais ferrenha. O PT, lembra Raymundo Costa nas páginas do Valor Econômico, ignorou os acenos de setores do PSDB. Coube ao ministro José Dirceu dinamitar qualquer possibilidade de um acordo que não significaria coligação fechada, apenas um mínimo de entendimento com os tucanos, em nome da boa governabilidade. Torpedeou porque se o PT está de um lado, o PSDB tem que estar no outro, e vice-versa.

Talvez o Brasil ainda tenha jeito, mas será difícil, vivendo sob as regras atuais do presidencialismo. Quem sabe sob o sistema parlamentarista seja possível a aliança de setores arejados com votos para tocar projetos urgentes e tirar o país do atraso, sem a necessidade de molhar a mão de picaretas.

Nada disso, evidentemente, é culpa de um governo só. É uma herança maldita e muitos governos. Na administração passada, do presidente Fernando Henrique Cardoso, quando também venderam a alma para evitar a abertura de CPIs, chegou a ser cogitada a criação de um Ministério de Recursos Hídricos, que teria como principal candidato o deputado Inocêncio de Oliveira, famoso por seus poços artesianos em Serra Talhada (PE). Vejam que passamos de um governo que chegou a estudar um ministério para furar poços a outro governo que estuda a entrega de uma diretoria que fura poços. É muita vontade de furar poço!

Hoje, o presidente está com a reeleição ameaçada por tantos desgastes que poderiam ter sido evitados se ele ouvisse as pessoas certas. Gente como o senador Tião Viana, que deveria ser empossado logo como Primeiro Conselheiro da República, ocupando dois lugares ao mesmo tempo - o dos ministros José Dirceu e Aldo Rebelo - e inaugurar seu ministério sem pasta com o melhor dos conselhos:

"Presidente, assuma definitivamente o chavismo!".

Por chavismo não se entenda o Lula vestindo uma farda, ignorando o Parlamento, colocando a oposição na cadeia e estabelecendo um canal direto e antidemocrático apenas com a parte do povo que o apóia.

Por chavismo entenda-se segurar com mão forte a chave do cofre e não entregá-la ao primeiro pilantra em troca de um apoio.


Nota do Editor: José Sergio Rocha é jornalista.

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