Na década de 1980 o então musculoso Arnold Schwarzenegger protagonizou um filme intitulado “Conan, o Bárbaro”, que em meio a escaramuças desafiava magia negra e combatia os inimigos com sua implacável espada. Guardadas as devidas proporções de tempo, circunstâncias e armas utilizadas, eis que surpreendentemente emerge no Brasil um pseudo-homônimo do fortão norte-americano, a brandir sua língua afiada para todos os lados. Em que pese o contido na Constituição Federal, que preconiza: “São poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário”, parece que o senador Renan Calheiros (PMDB - AL) na condição de presidente do Senado Federal extrapolou os limites do bom senso com assertivas de cunho estritamente pessoal. Inconformado com a ação desencadeada pela Polícia Federal, que resultou na prisão de agentes da polícia legislativa (acusados de atrapalhar investigações por efetuar varreduras eletrônicas em residências de políticos envolvidos com a Operação Lava-Jato) Renan, conhecido por sua (quase) inabalável serenidade, desfiou impropérios de grosso calibre. Os alvos foram um juiz federal de primeira instância (que autorizou as buscas e apreensões nas dependências do Senado) e o ministro da Justiça, respectivamente classificados depreciativamente como “juizeco” e “chefete de polícia”. Já diziam os antigos que a língua é o chicote da vida. Isso quer dizer que, cedo ou tarde, sem a adoção do devido cuidado com o que se fala, certamente as conseqüências do destrambelho verbal se farão presentes. Mas isso parece não intimidar o político em questão. Com a experiência de décadas na vida política, Renan imagina, com essa retórica midiática, garantir alguma pretensa imunidade que a princípio, o livraria de ações mais contundentes por parte da Polícia Federal, já que é alvo de investigações por condutas supostamente criminosas. Como uma Fênix renascida das cinzas (sua renúncia ao mandato em 2007 foi motivada por denúncias de corrupção), tudo indica que o presidente do Senado fez o que fez de caso pensado. A insurreição repentina agora encenada teria a intenção de reacender a discussão sobre o projeto de lei que tramita naquela Casa, que dispõe sobre o abuso de poder por parte de funcionários públicos (considerado como uma contraofensiva aos integrantes do Poder Judiciário, pelo vazamento sistemático de informações sigilosas à imprensa). Seria até compreensível a chiadeira descomedida do eminente senador (sobre a discussão de competências) na defesa da instituição que representa, se a civilidade e o respeito, embasados em argumentos consistentes norteassem seus posicionamentos, aliás, atitudes esperadas de qualquer homem público. Isso remete a uma triste constatação: o político brasileiro (de vereador a presidente da república) carece de valores morais, daqueles estratificados no ser humano. O nível rasteiro do horário eleitoral gratuito em rádio e TV é uma prova inquestionável dessa condição. Por essa e por outras, nada de produtivo para o País se pode esperar de nossos representantes, salvo raríssimas exceções, no momento em que assumem esse tipo de comportamento. Não obstante a relevância do cargo ora ocupado por Renan Calheiros, nosso bárbaro contemporâneo, é inaceitável que a sociedade tenha que conviver com esse tipo de postura. O respeito incondicional às diferentes instituições e seus integrantes é requisito básico para a manutenção da plena democracia, em todas as suas instâncias. Espera-se que o diálogo seja companheiro fiel dos responsáveis pelos destinos dessa nação, em que se prevaleçam em todos os momentos, os interesses coletivos. O Brasil precisa ser passado a limpo. Nota do Editor: José Luiz Boromelo, escritor e cronista em Marialva, PR.
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