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SEÇÃO
Crônicas
06/06/2005 - 15h17
Sobre o nada e outras milongas
Luiz Guerra - Agência Carta Maior
 

Se fosse, a um só tempo, cronista e filósofo, gostaria de escrever uma crônica sobre o nada. Mas sem me informar sobre nada que já se houvesse publicado sobre o nada. Como um marinheiro de primeira viagem que não soubesse nada sobre o mar, nem mesmo nadar. Nada de Parmênides, nada de Aristóteles, nada de Hegel, nada. Só eu e o nada, à maneira de alguém que, sem conhecer nada, ouvisse de repente alguém lhe dizer que Deus criou o mundo do nada.

E só então, nada temeroso, fizesse a si mesmo a pergunta: o que é o nada? Não, não, não quero nenhum filósofo acadêmico sussurrando em meu ouvido que o nada existe como conceito - já sou suficientemente grandinho para saber que nenhum conceito existe como peça inteiriça e inequívoca na vida cotidiana. E o nada, justamente por ser inteiriço e inequívoco, não pode ser e não ser um conceito ao mesmo tempo. Se o filósofo acadêmico descer do seu pedestal e disser-me que o nada é um quebra-galho, tudo bem; digamos que ele me diga: conceito é o nome que a gente dá para quebra-galhos desse tipo, aí vai até ganhar um amigo, nada me comove tanto quanto a sinceridade.

Não é mole pensar sobre o nada sem se valer de referências. Num primeiro momento, ficamos paralisados. E tentamos uma saída prosaica: já que ouvimos tanto a expressão tudo ou nada, nada só pode ser o antônimo de tudo. Tudo, a gente sabe, é tudo o que existe, inclusive o nada. Errado; o nada deixaria de ser antônimo de tudo. Então, tudo é tudo o que existe exceto o nada. Errado; você estaria excetuando justamente o que não existe, uma operação boa para a academia, mas inteiramente descabida aqui. E pode ir largando esse Heráclito aí, falamos em antônimo só para dar uma colher de chá, o nada não pode ser o contrário de tudo: como é que tudo o que existe pode ter como contrário o que não existe? Só gramaticalmente, ou seja, só considerando o que não existe como quebra-galho, o que é a mesma coisa que nada. Quebra o galho de quem? Do filósofo acadêmico?

Considerando toda a população do planeta, sabem qual é o percentual de filósofos acadêmicos em atividade no mundo? Quase nada. Quebra o galho de Deus? Deus não está nem aí, tirou o mundo do nada, como poderia ter tirado de onde bem entendesse. Digam ao homem comum que o nada é um quebra-galho da especulação filosófica. Nada. Digam isso a um filósofo acadêmico que não seja aquele que eu forcei a confessar. Não vão arranjar nada com ele. Já deu pra sentir que isto aqui não leva a nada. Mas quando você diz que quer pensar sobre o nada completamente despido de qualquer aparato conceitual isso já não atribui um certo ar de conceito ao seu nada? Não tem nada demais, isso não deixa de ser o meu próprio quebra-galho para escrever esta crônica e você não tem nada com isso.

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