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Crônicas
11/11/2016 - 05h51
Lições da montanha
Rangel Alves da Costa
 

Muita gente não compreende que a vida é de reconstrução, de refazimento, de volta por cima. Nunca aceita ou não está preparada para vencer desafios. Depois de uma perda ou um infortúnio qualquer, é como se tudo acabasse ali mesmo.

Como diz o ditado, ninguém vai ao túmulo ao lado daquele que ama. Sofre em vida, mas até o instante onde o luto chama ao renascimento. Mesmo que a saudade persista, ainda assim encontrará outras razões para compartilhar as belezas da existência.

Sempre há um motivo para seguir adiante, para afastar a dor e se reconfortar na necessidade de não sucumbir. Muitas folhas novas dependem dos galhos e do tronco para continuarem existindo. Tudo dói, dilacera, angustia demais. Mas viver na dor e da dor o que vai alimentar? Viver para o sofrimento é se negar a lutar a lutar por aquilo que traga alegria, felicidade, contentamento.

As flores morrem e o jardim já estará maravilhosamente belo na próxima estação. As folhas caem, esvoaçam, somem, mas outras logo vicejarão na mesma árvore. É como se o livro do Eclesiastes em tudo estivesse. E realmente está. Tudo surge como oportunidade, como ocasião para relembrar antigas lições.

Nada se eterniza nem na alegria nem na tristeza. O ser humano haverá de aprender o convívio com realidades já conhecidas demais: a luz e a escuridão, a tempestade e a calmaria, a brisa e o vendaval. Tudo acaba para renascer, o que é agora no instante seguinte já não será.

É preciso sonhar, ter esperança, desejar o melhor. Surge o inesperadamente doloroso, a tristeza indesejada, mas nada diferente do que em tudo acontece. Ora, a vida é uma colcha formada por sedas finas e molambos. Ninguém tem somente aquilo que deseja.

Disse o artista que as luzes da ribalta devem sempre brilhar. “Para que chorar o que passou, lamentar perdidas ilusões, se o ideal que sempre nos acalentou renascerá em outros corações...”. Ademais, a beleza do sol vai sumindo para que a majestosa imponência da lua apareça.

Por isso mesmo que a ninguém se prostrar diante dos temores e das adversidades, das derrotas e dos sofrimentos. Tudo surge como lição, como aprendizado, e também para fazer surgir na pessoa a força do refazimento. É uma questão de sempre seguir em frente.

E, na vida e pela vida, há sempre um grande motivo para ir adiante, para não desistir dos sonhos, objetivos e esperanças. Não haveria estradas e horizontes, destinos e repousos, se tudo permanecesse no mesmo lugar.

Há uma porta aberta mostrando um caminho. Há uma estrada mostrando um destino. Há um destino chamando a seguir. Nada permanece porque o ser é instante seguinte. E é seguindo que se vai ao longe, que é possível encontrar o que foi sendo construído em esperança.

Há uma raiz que se desgarra e brota em fruto. Há um fruto que vai espalhando sementes. Há sementes que vão vingando outras vidas. Nada se finda no seu começo. E assim por que a pessoa não é grão perdido no mundo, não é broto que nasce e desaparece sem frutificar. Ao deixar o seu rastro, sobre ele também gerações e obras que jamais serão esquecidas.

Há uma saudade que envelhece com a idade. Há uma idade que não quer mais sofrer. Há um sofrer que busca romper o passado em busca da felicidade. Nada se perpetua na dor. Eis que ninguém vive para o martírio do não acontecido ou pela incompleta vivência. Há que se viver a memória sem buscar apenas as experiências amargas. Doce é o viver açucarado pela compreensão da própria vida.

Há uma revoada que sempre passa ao entardecer. Há um entardecer que vai esmorecendo sua cor à espera da lua. Há uma lua que cantará sua magia e felicidade até chegar o seu instante de ir embora. É a vida em ciclos, em sombras e luzes, sempre se renovando a cada novo dia. Assim também deve ser a renovação humana, tendo a vida e procurando sempre um novo e melhor viver.

Assim, tudo vem e tudo vai. Por que tudo cíclico, tudo nascimento e morte, tudo transformação. Outono e primavera, primavera e outono, e sempre e sempre. As demais estações servem como lições para o que poderá acontecer, para o enfrentamento das folhas secas e tristes do outono ou mesmo dos espinhos pontudos que surgem nas floridas hastes primaveris.

E não há mais o que esperar. Há uma porta aberta mostrando um caminho. Os olhos foram feitos para avistar além, os pés para seguir, o coração para pulsar de felicidade. Então estenda o lenço no varal e siga. Não há mais o que chorar, nunca há muito que chorar. O sal da angústia e do sofrimento se dissolve na gota de felicidade. E em doçura se transforma ao chegar ao lábio daquele que não desistiu de ser feliz.


Nota do Editor: Rangel Alves da Costa é poeta e cronista. Mantém o blog Ser tão / Sertão (blograngel-sertao.blogspot.com.br).

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