O empresário João Dória Júnior, que sem passar por qualquer eleição anterior, ganhou no primeiro turno a prefeitura de São Paulo afirmando não ser político, mas gestor. Reservadas as proporções, foi o mesmo que aconteceu nos Estados Unidos, onde o também empresário Donald Trump se fez presidente com o discurso que contesta a classe política. Na última quarta-feira, o ex-ministro da Economia, Emmanuel Macron, apresentou-se candidato à presidência da França, numa alternativa “nem de direita nem de esquerda”. Enquanto isso, vemos no Brasil processos e a prisão de ex-ministros, deputados, senadores, governadores e megaempresários acusados de corrupção e de levar o país à bancarrota, assim como a ameaça de prisão de ex-presidentes e denúncias apontadas ao atual. Nas últimas eleições, a soma dos votos brancos e nulos com a abstenção, chegou a 32,5%, demonstrando o desencanto do eleitor com a classe política. Desde o início, a República brasileira vive aos trancos. Nos primeiros anos registrou golpes internos entre os militares que a proclamaram. Depois caiu no círculo vicioso das elites rurais mineira e paulista. A seguir veio a ditadura Vargas em suas diferentes facetas. A democracia 1946-64 também sofreu seus revezes até desaguar num novo período autoritário, que se estendeu até 1985. A então chamada Nova República nasceu assistindo a morte do seu primeiro presidente, Tancredo Neves, sete anos depois vivenciou o impeachment de Fernando Collor, o primeiro presidente eleito diretamente em quase 40 anos, e veio num crescendo de “liberdades”, que nos legaram o país de hoje, onde vigoram os direitos sem deveres. A imagem do político nunca foi bem vista, tanto nos períodos de ampla democracia quanto nos de arbítrio. O eleitor vota mas critica e assim a vida segue. Durante o regime 64-85, políticos foram cassados perseguidos e exilados. Na redemocratização, muitos deles voltaram, uniram-se aos que aqui estaca, assumiram as rédeas do país e acabaram nos conduzindo ao impasse de hoje. Agora, revelados os esquemas de corrupção, desmascarada parte de seus integrantes e muitos outros colocados sob suspeição, a classe vive o auge da impopularidade. Ninguém, em sã consciência, é capaz de prever como terminarão as apurações da Operação Lava Jato e suas subsidiárias. O episódio Dória em São Paulo, Trump nos EUA e o despontar de Macron e outros na França, podem sinalizar que o desencanto do eleitor não é só brasileiro. Talvez seja o demonstrativo de que a classe política, no seu atual formato, já perdeu seu prazo de validade e, para sobreviver, terá de se reinventar... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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