A questão é de extrema relevância: o que está escrito nas entrelinhas do texto dessas grandes revistas e jornais nacionais? Atribuímos aos seus editores e jornalistas a importante missão de camuflar as misérias e as maravilhas que moram em nós. As matérias são bem escritas, a diagramação impecável, nota dez na apresentação. Mas cada vez nos dizem que somos fracos, e por isso precisamos nos alimentar com todas as ofertas de seus comerciais superelaborados. "Consuma, animal, porque é só isso que você é capaz de fazer". Uma rara parcela da população tem discernimento para ler nas entrelinhas e notar como giram as rodas da grande geringonça, que fazem do homem um animal medíocre, sem criatividade, incapaz de ver-se como criatura milagrosa, única e indecifrável. Enquanto consome, o ser humano não tem tempo nem inspiração para fazer despertar em si a tempestade, a sinfonia, o vento, a cavalaria vibrante dos primeiros dias, quando em criança sentia-se parte de um mundo mágico e sem fronteiras. O mercado defendido pelos grandes meios de comunicação de massa quer a humanidade feito um animal estúpido, mas domado, que não faça oscilar a balança comercial. Os jornais, revistas e TV fazem o contorno do homem, traçam seus limites, explicam o que ele é: um invólucro adequado, pronto para inchar-se de orgulho por suas conquistas materiais, mas incapaz de ver as perdas diárias de seu espírito. As ferramentas da nova tecnologia nos põem a pensar que somos poderosos e criativos sempre que fazemos nossas máquinas possantes voarem a 180 km/h, ou quando navegamos sem fronteiras na rede global, ou quando juntamos uma porção de sons e imagens no computador e pensamos que compusemos uma grande obra de arte. O novo sistema de obras enlatadas, defendido diariamente pela grande mídia, traz uma falsa sensação de poder ao animal "com sumidouro". O homem já não precisa procurar respostas, questionar, revoltar-se, pois as questões estão todas resolvidas. O carro é confortável, a rede de computadores funciona, o supermercado tem todos os produtos que necessitamos, as lojas trazem todos os artigos do mundo inteiro. Adquire-se tudo pronto, nada que seja necessário criar. Tudo isso deveria significar "paraíso", mas então, por que as pessoas não são mais felizes do que há vinte, trinta anos atrás? Talvez porque os criadores deste "mundo perfeito" partiram da premissa errada. Julgaram que o homem é um animal como qualquer outro, capaz de se contentar com alimento e conforto. Mas a cada dia se torna mais evidente que o homem verdadeiro é o de Parmênides, não o de Sócrates: o homem não é somente um animal que pensa. É a ponta de lança de toda a evolução, um conjunto extremamente complexo, que exige muito mais do que lhe apresenta esse "mercado". As denúncias sociais mostradas em publicações e imagens televisivas servem para evidenciar uma certa magnanimidade dos meios de comunicação, um falso carinho pelos miseráveis para ganhar a simpatia do público. Na verdade, os grandes periódicos nacionais trabalham em favor dos gigantescos grupos privados, e contra a grande massa trabalhadora. Essas mentiras são desvendadas cotidianamente por todos aqueles que aprenderam a ler as entrelinhas do texto, e que diariamente procuram produzir as "estrelinhas do texto": a humanidade somos todos nós, com nossos ranços, desejos de vingança, orgulhos, bondade, solidariedade, esperança. Encontrar o equilíbrio é uma busca que infelizmente passa bem longe dos propósitos dos poderosos.
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