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SEÇÃO
Crônicas
16/12/2016 - 05h46
Cabelo de anjo
Marina Alves
 

Dizem que os anjos são louros, de cabelinhos encaracolados em delicados ninhos, e olhos azuis. Pelo menos assim, ao longo do tempo, vêm sendo pintados, retratados, desenhados. Asas, faces de louça rosadas e macias, também fazem parte do quadro. Anjos mirabolantes, esvoaçantes que simbolizam pureza, ternura, doçura. Anjos que guardam crianças travessas e distraídas...

Já confiei muito nestes anjos. Em minha casa havia uma pequena gravura pendurada sobre a cama onde dormíamos. Mostrava duas crianças com seus brinquedos, à beira de um riacho. Próximo às crianças, um anjo magnífico, naturalmente guardando-as do iminente perigo. A mim, bastava: onde quer que estivesse, jamais estaria só. Era a ideia que a imagem da gravura me passava. Aquele anjo era o guardião das crianças, estava sempre de olho nas suas peraltices. Então, o que temer? (O Temer? Bobagem, deixa pra lá, que isso não é hora nem lugar rsrs).

Além do anjo, a oração “Santo anjo do Senhor, meu zeloso guardador...” para ser rezada antes de dormir e ao acordar. Segundo nos orientavam, a oração fechava o corpo, nada de mal poderia acontecer. Não havia uma noite ou manhã que eu não rezasse a oração, acreditando piamente que poderes supremos e divinos estariam a minha volta o dia inteiro.

O tempo passa, a gente cresce, amadurece, cria juízo. Começa a questionar muitas coisas, inclusive, a performance dos anjos. Quer saber o porquê caricato dos seres angelicais, aqueles que nos fizeram crer, quando o mundo aponta bondades em tantas caras destoantes dos padrões estabelecidos. Então começa a descrer nas histórias que nos contaram. E como contam mentiras para as crianças! Não só sobre anjos e seus modelos pré-concebidos, mas sobre tudo. Povoam o universo dos pequenos com tantos fantasmas, tantos monstros, tantas bizarrices, e nem pensam no efeito, muitas vezes, devastador, provocado.

Anjos, na melhor das intenções. Monstros, na pior. E nem se pensa nos terrores dos bichos-papões, dos gigantes, dos lobos maus, das bruxas e feiticeiras. Sem contar os enganos que giram em torno das cegonhas, dos Papais Noéis, Coelhinhos da Páscoa e Fadinha dos Dentes, dentre tantos mais. Pobres crianças! Ludibriadas, enganadas, logradas impiedosamente pelos mais velhos. Quanta coisa vão (vamos) tendo que descobrir com o passar do tempo.

Fui comprar uma massa de macarrão. E lá estavam algumas variedades expostas: Gravata, Espaguete, Talharim, Caracol, Parafuso... E Cabelo de Anjo. Pois muito bem! Nada contra o nome fantástico das massas. Mas Cabelo de Anjo me perturba, remexe meu passado inocente. Levo qualquer massa, menos Cabelo de Anjo. Embirrei com o nome, cúmplice de tantas mentiras que me contaram - até quando só quiseram preservar ou proteger. Não acredito que anjos têm cabelos assim lourinhos, encaracolados em delicados ninhos. Ou será que têm? Quer saber? Vou pelo talharim, antes que entre em parafuso...

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