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Opinião
03/01/2017 - 11h54
Fidel: o futuro o absolverá?
Daniel Medeiros
 

Em outubro de 1953, o jovem advogado Fidel Castro apresentou sua defesa contra a acusação de violar a Constituição por atacar o quartel de Moncada, em 26 de julho, e tentar derrubar o governo do ditador Fulgêncio Batista. Em que país está vivendo o senhor promotor? Quem disse que nós promovemos uma revolta contra os poderes constitucionais do Estado?, disse um intenso revolucionário, em seu discurso de quase quatro horas, que evocava as mais autênticas raízes liberais e seu direito de resistência aos governos despóticos. Ao fim de sua defesa, Fidel afirmou: Me condenem, não importa. A história me absolverá. Condenado a 15 anos, acabou anistiado no ano seguinte e partiu para o exílio, no México.

A Cuba do jovem Fidel era uma espécie de Estado de segunda categoria, agregado aos EUA, com sua economia – usinas de açúcar e redes de hotéis – controlada diretamente por empresários americanos (muitos ligados à Máfia) e governada formalmente pelo ex-sargento Fulgêncio Batista, autor de dois golpes de Estado, que se mantinha autoritariamente no poder, perpetuando uma sociedade empobrecida e muito distante do acesso às condições mínimas de saúde e educação.

Por isso, quando em dezembro de 1956, o mesmo advogado arrogante e falador, desembarcou em Cuba, vindo do México, com um punhado de guerrilheiros e internou-se na Sierra Maestra, começava o fim do reinado do ditador Batista. O apoio popular foi imediato e a adesão da sociedade pobre alastrou-se rapidamente por toda a ilha. Em dezembro de 1959, na véspera de Ano Novo, Fulgêncio foge e as tropas de Fidel assumem o poder. A ilha canta de alegria, enquanto muitos arrumam suas malas às pressas, rumo aos EUA. Agora Cuba teria um governo popular e democrático e seria a vez do povo. Bom, era o que todos acreditavam. Por isso comemoravam.

O que aconteceu com Cuba durante o reinado do novo ditador? Os cubanos passaram a viver melhor? Os cubanos passaram a ter melhor saúde? Educação? Liberdade? Trabalho? Tecnologia?

Há muitos “sim” e “não” a estas perguntas. Depende de qual estatística se queira olhar. Alfabetização? Saneamento? Hospitais? Sim, sim, sim. Liberdade de expressão? Direito de ir e vir? Pluralismo político? Não, não, não. Repressão? Sim. Rotatividade no poder? Não. E por aí vai, na gangorra nem sempre sensata do julgamento da História.

Em 2008, após quase cinquenta anos no poder, Fidel deixou o governo para seu irmão “mais novo”. E agora, no quase fim de 2016, dá o seu adeus definitivo. O mundo mudou várias vezes nesse tempo todo. O boicote ortodoxo dos EUA e a aliança com a URSS já não existem mais. As redes sociais impedem a manutenção do isolacionismo. As fugas constantes – que tornaram Miami uma cidade cubana por excelência -, as prisões, a repressão, macularam a ideia de uma sociedade que legitima seu governo. Mas há também os índices de desenvolvimento humano, melhores em toda a América Latina. E isso não é pouco! Mas há a falta de liberdades individuais e políticas, a violência contra as minorias sexuais, a censura à imprensa, a limitação do uso da internet, as dificuldades de os cubanos viajarem, os pedidos de asilo dos seus atletas e tantos outros sinais de que o regime político de Cuba sobrevive graças a mão de ferro dos Castro e da velha guarda revolucionária de 1959. Vale a pena? A gente não quer só comida, a gente quer a vida como a vida quer...

O tempo é implacável. O velho “comandante” acabou de perder sua última batalha, aos 90 anos, sem eloquência ou floreios. Como último pedido, que seja cremado. Sem corpo embalsamado e exposto para as multidões, como outros ícones revolucionários. Menos mal. Fica a obra e o julgamento da História. O futuro o absolverá?


Nota do Editor: Daniel Medeiros é Doutor em Educação Histórica pela UFPR e professor do Curso Positivo.

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