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Crônicas
11/06/2005 - 13h23
Nas garras do ceticismo
Pedro J. Bondaczuk
 

"O medo de perder inibe a vontade de ganhar". Muitos treinadores de futebol (e de outros esportes) utilizam, bastante, essa afirmação, para motivar seus jogadores, antes de jogos importantes, decisivos para suas equipes: ou por elas estarem disputando títulos, ou para fugir do rebaixamento para divisões inferiores.

Wanderley Luxemburgo, técnico do poderoso Real Madrid (apelidado pelos torcedores madrilenhos de "Os Galácticos"), é um dos que se utilizam, amiúde, dessa feliz expressão. De tanto ser repetida, ela até já virou um aforismo, ou um clichê, mero chavão a cujo real significado poucos parecem atentar.

Nem por isso, em sua essência, a afirmação deixa de ser uma grande verdade, não somente no esporte, mas em tudo o que fazemos na vida. Quantas vezes deixamos de ser bem-sucedidos, quer no campo profissional, quer no afetivo ou social, por medo de fracassar! Tememos encarar riscos, contentando-nos com situações medíocres, burocráticas, rotineiras, porém estáveis.

O escritor argentino Ernesto Sábato, em seu livro "Antes do fim", cita um extremo desse ceticismo, dessa falta de fé em nossas próprias possibilidades, na nossa capacidade de superar obstáculos, desde que dominemos o temor de tentar.

Escreve: "Os jovens sofrem: já não querem mais ter filhos. Não há ceticismo maior. Assim como os animais no cativeiro, nossas jovens gerações não se arriscam a ser pais. Tal é o estado do mundo que estamos lhes entregando. A anorexia, a bulimia, as drogas e a violência são outros dos sinais deste tempo de angústia, reações ao desprezo pela vida daqueles que nos comandam. Como poderíamos explicar aos nossos avós que levamos a vida a uma tal situação que muitos jovens se deixam morrer porque não comem ou vomitam os alimentos? Por falta de apetite pela vida ou para cumprir o mandato que a TV nos inculca: a magreza histérica".

Claro que não recomendo a ninguém que se lance em aventuras temerárias e/ou insensatas, em empreendimentos em que não haja a mínima chance de sucesso, sem essa ou mais aquela. Há os que fazem isso, os que se arriscam sem a mínima prudência, os que se jogam, de cabeça, em abismos profundos, sem querer saber o que vão encontrar no final. Isso não é coragem. É, isto sim, enorme burrice.

Há situações, porém, em que os riscos são mínimos, e, ainda assim, muitos optam pelo covarde comodismo do conhecido, embora este não seja grande coisa ou, até, seja pífio, muito ruim. Por que? Por medo! É o que se verifica, por exemplo, hoje em dia, em boa parte das redações, País afora. O pavor de perder o emprego como que paralisa muitos colegas, repórteres e/ou editores, que aceitam as ordens mais esdrúxulas e estapafúrdias, de chefetes mal preparados, que se impõem não pela capacidade profissional, mas pelo terror. Há excesso de mão-de-obra na praça, facilitando a rotatividade e desvalorizando, cada vez mais, a categoria.

O jornalista, hoje, trabalha inseguro, sem saber se amanhã continuará tendo emprego, aceitando, por conseqüência, o aviltamento do seu salário. Comitês de Redação? Nem pensar! Por medo, o assunto sequer é trazido à baila. Os patrões impõem e dispõem, a seu bel prazer, e a categoria fica cada vez mais enfraquecida, aceitando, passiva e bovinamente, toda e qualquer imposição, limitando-se a resmungar pelos cantos, sem que seus resmungos gerem qualquer resultado prático.

Para fugir dos recolhimentos das contribuições sociais, por exemplo, muitos jornais (e muitos mesmo) forçaram seus profissionais a se registrarem como autônomos, ou seja, como microempresários, arcando com o ISS e tendo que recolher a própria contribuição previdenciária, caso tenham a veleidade de um dia se aposentar, mesmo sabendo o quanto é ridículo o valor da aposentadoria com que terão que sobreviver, caso logrem essa façanha.

O que fez com que a categoria se desvalorizasse tanto? O medo! O receio de tentar caminhos mais dignos, mais racionais e até mais lógicos, que a levou à acomodação. Antigamente, jornalistas se caracterizavam pelo próprio estilo, que era a sua marca registrada. Hoje, os manuais de redação padronizaram tudo. Os textos são anódinos, insípidos, inodoros e incolores, todos iguais, como se houvessem saído de uma só e única cabeça oca. Claro que há exceções (sempre as há), mas a regra, infelizmente, é essa. Daí os jornais, hoje em dia, serem tão chatos e, não raro, chatíssimos, perdendo vendas e assinantes. Profissionais desmotivados quase nunca são criativos.

Não raro, porém, os jornalistas (entre os quais, claro, me incluo) conseguiriam importantes saltos de qualidade, na profissão e principalmente na vida, caso estivessem dispostos a se arriscar minimamente, racionalmente, calculadamente. Gosto muito do título (e claro, do teor) das palestras do professor Steven Dubner, um dos dez maiores palestrantes do País, que vem a caráter para ilustrar estas considerações.

Esse especialista em esportes para deficientes físicos denominou suas brilhantes preleções utilizando uma afirmação do filósofo oriental Lao Tsé, que diz: "Não sabendo que era impossível, ele foi lá, e fez". É disso que precisamos. Ou seja, de "não saber" que os desafios, que estejamos prestes a encarar, raiem à impossibilidade. Dessa forma, despidos de "medo", de uma forma ou de outra, acabaremos por "fazer" o que, a princípio, aparentava ser irrealizável.


Nota do Editor: Pedro J. Bondaczuk é jornalista e escritor.

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