08/05/2024  18h42
· Guia 2024     · O Guaruçá     · Cartões-postais     · Webmail     · Ubatuba            · · ·
O Guaruçá - Informação e Cultura
O GUARUÇÁ Índice d'O Guaruçá Colunistas SEÇÕES SERVIÇOS Biorritmo Busca n'O Guaruçá Expediente Home d'O Guaruçá
Acesso ao Sistema
Login
Senha

« Cadastro Gratuito »
SEÇÃO
Opinião
20/01/2017 - 06h48
Um `Carandiru´ para as Forças Armadas
Dirceu Cardoso Gonçalves
 

O emprego das Forças Armadas no controle da crise carcerária é um ato extremo e exige muito cuidado. O problema não se resolve com a simples substituição da polícia estadual e dos agentes penitenciários pelas tropas que – não podemos ignorar – são preparadas para a guerra e portam armamento pesado. Não é o tipo de recurso adequado para conter o grupo de encarcerados, portanto já subjugados e mantidos em área delimitada, que não têm reféns, não ameaçam as autoridades e apenas se digladiam pelo poder entre si e pelas atividades criminosas que a fraqueza do Estado os ensejou constituir e administrar de dentro do cárcere. O uso da tropa só se justificaria se os rebelados estivessem soltos ou amotinados ao estilo de guerrilha e tivessem de ser capturados. Se fosse para invadir o presídio, a polícia o faria e sofreria as conseqüências.

Desde o fatídico acontecimento do Carandiru, em 1992, os governos e suas polícias têm sido cautelosos na invasão de presídios amotinados, pois sabem que as mortes são inevitáveis, os detentos de facções rivais se matam e os oportunistas de plantão agem rapidamente para atribuir o resultado à violência policial. Se as tropas federais forem levadas a intervir, certamente, terão o mesmo resultado e sofrerão acusações idênticas, restando seus integrantes marcados para sempre e sujeitos a processos e condenações que se elevam a centenas de anos, como ainda hoje ocorre em São Paulo, mesmo passados 25 anos do acontecimento.

Antes de empregar suas tropas, que têm outras importantes missões a cumprir, o Governo Federal deveria oferecer apoio legal, financeiro e logístico para que os estados, verdadeiros titulares da segurança pública, desempenhem a missão. Melhor do que botar a mão diretamente na massa, seria apoiar os governadores e cobrar resultados, sem esquecer que o Poder Judiciário também é partícipe do problema e que o Legislativo não pode ficar alheio porque existem medidas que dependem da aprovação de novas leis.

A crise do sistema penal é o resultado de décadas de omissões, desmandos e até corrupções. Agindo isoladamente, os poderes negligenciaram ao não modernizar a legislação penal, não criar as vagas suficientes para recolher os apenados e ao condenar à prisão quando poderiam recorrer a penas não restritiva da liberdade. Foi esse estado de coisas que criou o caldo de onde resultaram as facções que dominam as prisões e do seu interior comandam o tráfico de drogas e armas e outras ações do crime organizado. Tudo isso é produto do meio.

Nesses primeiros dias do ano já morreram 119 detentos. Mais do que os 111 do Carandiru. Como não houve confronto com a polícia, ainda não se fala em massacre ou violência policial. Mas se, eventualmente, as Forças Armadas forem levadas a intervir, sem qualquer dúvida, seus integrantes também encontrarão o seu “Carandiru”, serão condenados na justiça por massacre, e o problema não se resolverá...


Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).

PUBLICIDADE
ÚLTIMAS PUBLICAÇÕES SOBRE "OPINIÃO"Índice das publicações sobre "OPINIÃO"
31/12/2022 - 07h25 Pacificação nacional, o objetivo maior
30/12/2022 - 05h39 A destruição das nações
29/12/2022 - 06h35 A salvação pela mão grande do Estado?
28/12/2022 - 06h41 A guinada na privatização do Porto de Santos
27/12/2022 - 07h38 Tecnologia e o sequestro do livre arbítrio humano
26/12/2022 - 07h46 Tudo passa, mas a Nação continua, sempre...
· FALE CONOSCO · ANUNCIE AQUI · TERMOS DE USO ·
Copyright © 1998-2024, UbaWeb. Direitos Reservados.