Nós liberais costumamos criticar muito o Estado. Criticamos o gigantismo estatal, a ineficiência estatal, a alta carga tributária, a crescente dívida pública, a obscena taxa de juros, a intervenção na economia etc. Todas essas críticas são razoáveis e realmente devem ser feitas, já que o Brasil vai continuar sendo um país de um futuro que nunca chega enquanto essa situação não mudar. Mas existe um problema ao qual nós liberais não damos muita importância: o custo-brasileiro. Todos já devem ter ouvido falar do Custo-Brasil o qual, além de envolver todos os fatores enumerados acima, também é causado por empecilhos como a legislação trabalhista, a enorme burocracia estatal, o fraquíssimo sistema de educação, o rombo da previdência etc. Da mesma forma que existe um Custo-Brasil, existe também um custo-brasileiro. Esse último custo se dá por inúmeros fatores mas pretendo salientar apenas um neste artigo: a enorme tendência a gastar que nós temos. Qualquer um que acompanha o noticiário econômico deve ter lido nas últimas semanas matérias sobre a preocupação, tanto do governo quanto dos bancos, em relação ao boom de crédito que ocorreu nos últimos meses, principalmente por causa do crédito consignado e do crédito popular oferecido pelo Banco Popular do Brasil. A inadimplência é a maior preocupação dos burocratas de Brasília e dos banqueiros de São Paulo. Entretanto, essa notícia serviu para me mostrar uma coisa: a incapacidade dos brasileiros em economizar. O principal público-alvo do crédito consignado são os aposentados que, como todos sabem, geralmente gozam de parcos rendimentos. O Banco Popular do Brasil, por sua vez, foi criado justamente para atender pessoas de baixa renda, que dificilmente têm algum tipo de poupança e acesso ao crédito por vias normais. Ainda por cima, uma pesquisa realizada pela revista Veja mostrou que apenas metade dessas pessoas está utilizando o crédito para pagar dívidas antigas. Ou seja, metade desses consumidores está pegando dinheiro emprestado para gastar o que não tem. Isso mostra uma coisa: É só aparecer uma oportunidade para gastar que ela será aproveitada. Não existe a menor propensão que seja a economizar dinheiro. Poupança então, por menor que seja, é algo praticamente impossível. É certo que a capacidade para poupar das pessoas de baixa renda é tão diminuta quanto sua renda, mas ela existe. Por outro lado, maior que essa renda, é a capacidade para gastar. A incapacidade para poupar obviamente não é privilégio de pessoas de baixa renda. Acredito que qualquer pessoa que freqüente a lanchonete McDonalds ou a cadeia de cinema Cinemark notou que há alguns meses os dois estabelecimentos mudaram a forma de oferecerem guardanapos aos seus clientes. Antes, qualquer pessoa podia pegar quantos guardanapos quisessem; agora, os próprios funcionários oferecem ao cliente dois ou três guardanapos embalados num saco plástico. Curioso com esse fato, perguntei o porquê disso tanto para um funcionário do McDonalds, quanto para outro do Cinermark. A resposta foi a mesma: os clientes estavam abusando, pegando dúzias de guardanapos, aumentando o custo do estabelecimento. Parece-me que as pessoas achavam que os guardanapos eram de graça, quando na verdade o custo disso estava incluído no preço dos produtos. Confesso que gostaria de ver dados sobre a economia de guardanapos feita desde então. O que isso mostra? A propensão em gastar, ainda que neste caso não seja dinheiro, mas guardanapos (por outro lado, mesmo guardanapos têm um custo financeiro). Tenho certeza de que todos conhecem várias pessoas que estão sempre endividadas: Acabam de pagar as prestações da televisão e já começam a pagar um aparelho de som. Acabam de pagar este e compram um computador, depois um carro, uma casa, a reforma da casa e assim por diante, sem nunca conseguir deixar um centavo parado na poupança. O problema é que sem poupança não há investimento. Sem poupança, os juros continuarão altos. Por isso é que um problema causado pelo Estado é agravado por nós mesmos. E depois ainda falam que o melhor do Brasil é o brasileiro... Como solucionar isso? Não tenho a mínima idéia e aceito sugestões. Nota do Editor: Marcelo Moura Coelho é acadêmico de Direito no UniCeub em Brasília.
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