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Opinião
12/06/2005 - 13h13
Tempo, mulheres e divisão sexual do trabalho
Maria Betânia Ávila - Pauta Social
 

O tempo é um bem escasso na dinâmica da vida social moderna. O que chamamos aqui de tempo é o sistema padronizado de regulação dos períodos de duração de horas, dias e anos etc., que se constitui de fato como uma instituição social. A forma de desenvolvimento capitalista produziu historicamente uma vida cotidiana onde o tempo que conta e que tem valor é aquele empregado na produção, aquele que gera mais valia. O tempo do cuidado com a reprodução da vida das pessoas não é levado em conta na distribuição do tempo dentro da relação produção x reprodução. O período dedicado ao descanso, ao lazer, à reposição de energia, de se reconstituir física e mentalmente, é aquele que sobra das atividades produtivas.

Onde está, portanto, o tempo para os cuidados necessários para manter a vida da coletividade humana, isto é, para o desenvolvimento das tarefas que garantem a alimentação, o abrigo, a vestimenta, a educação, a saúde e o aconchego? Qual o tempo definido para o cuidado com as pessoas que não têm condições de se auto-cuidar, como as crianças, idosos/as e outras pessoas que não têm condições física ou mental para isso? Esse tempo, que não é percebido como parte da organização social do tempo, é retirado da vida das mulheres como parte das atribuições femininas, determinadas pelas relações de poder de gênero.

As mulheres que estão no mercado de trabalho, e hoje constituem - no Brasil e em muitos outros países - uma maioria, produzem um tempo para isso tirado daquele que sobra da sua inserção na produção. É aí que se produz a dupla jornada, onde as tarefas da reprodução são entendidas como não portadoras de valor social. A reestruturação produtiva tem levado, também para o interior do espaço doméstico, as tarefas da produção, que geralmente são destituídas de contrato de trabalho formal e de uma regulação do tempo do trabalho produtivo. Estabelece-se dessa forma um ritmo de trabalho no qual o limite é a capacidade física e a necessidade de produzir a renda, em geral determinada por produtividade.

As tarefas reprodutivas vão sendo executadas de forma simultânea dentro do mesmo espaço, criando um ciclo perverso e sem limite de tempo entre as duas formas de trabalho. Um trabalho considerado sem valor leva a uma situação onde o tempo empregado na sua realização não é medido nem visibilizado. Para as mulheres, a questão do tempo sempre se colocou como algo fora do seu controle.

Por tradição, o tempo do trabalho doméstico é elástico, sem limites, sem valor, parte da existência das mulheres. Para as mulheres trabalhadoras, as tarefas domésticas se estendem, pelo menos enquanto preocupação, para seu espaço na esfera produtiva. Um trabalho se realiza sem que a preocupação com o outro desapareça. As mulheres ainda liberam o tempo dos homens para dedicação exclusiva às atividades externas ao espaço doméstico. E, entre mulheres, são elas que liberam o tempo umas das outras para também se dedicarem às atividades não-domésticas. As mulheres de classe média e alta estão apoiadas no trabalho de outras mulheres - que formam a categoria das empregadas domésticas - para se liberarem no seu cotidiano das tarefas domésticas.

Quanto às mulheres pobres, que não contam com recursos para contratarem outras mulheres, o que se formam são redes de solidariedade comunitária ou familiar nas quais as mulheres trocam entre si o cuidado com as crianças e fazem as outras tarefas domésticas antes e depois da jornada de trabalho remunerado. A cadeia de substituições começa ao amanhecer sem limite de tempo para terminar. No que tange ao tempo da reprodução não houve redistribuição e as mulheres continuam, majoritariamente, respondendo por essa esfera.


Nota do Editor: Maria Betânia Ávila é socióloga, pesquisadora e coordenadora geral do SOS Corpo Instituto Feminista para a Democracia.

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