Arquivo MAMM |  |
Quando morria alguém em Toque Toque Grande, São Sebastião (SP), era feita uma reza, o morto era colocado em uma rede, depois os homens seguiam a pé até Maresias, onde era feito o enterro, se o mar não estivesse bom. Essa caminhada era feita com muito respeito, não havia espaço para brincadeiras, com uma pessoa conhecida, morta, sendo carregada. As vezes eles paravam, pitavam fumo e depois seguiam para o trajeto que ocupava a metade do dia. A parte mais difícil era no Rio de Paúba, que com a chuva ficava difícil de atravessar. Mas em 1937, a comunidade arrecadou dinheiro no Centro da Cidade para a construção do cemitério. Parte desse dinheiro foi para buscar pedras em Calhetas, foram cinco ou seis canoas, os homens traziam as pedras até a praia e as mulheres carregavam para o local. O terreno foi doado pela Marinha e foram feitos tijolos de barro para construir o muro, que há até hoje. Depois de tudo pronto, a expectativa era: Quem seria a primeira pessoa enterrada ali. Certa manhã a dúvida acabou, os caiçaras de Toque Toque, encontraram uma perna de mulher, na praia, que a maré trouxe, sabe-se lá de onde. Houve uma pequena cerimônia e a perna foi enterrada, inaugurando assim o cemitério. Em novembro de 1993, fiz uma reportagem sobre a abertura da Estrada, para a Revista Igarati e conversei com as pessoas mais antigas da praia, ninguém lembrou quem foi a primeira pessoa enterrada, mas todos me perguntaram: “Você sabe a história da perna?”
Nota do Editor: Maria Angélica de Moura Miranda é jornalista, foi Diretora do Jornal "O CANAL" de 1986 à 1996, quando também fazia reportagens para jornais do Vale do Paraíba. Escritora e pesquisadora de literatura do Litoral Norte, realiza desde 1993 o "Encontro Regional de Autores".
|