Tenho assistido, estupefata, às repetidas divulgações dos resultados das pesquisas para as próximas eleições presidenciais. Em todas elas, com pequenas variações, o sr. Luiz Inácio da Silva aparece como favorito, com boa margem de vantagem à frente dos demais candidatos. E é exatamente esse o motivo de minha estupefação. Não é possível que com tanta corrupção, com tanta incompetência, com tanta conversa fiada, com tanta enganação, os brasileiros ainda continuem iludidos, acreditando em uma missão sebastianística do atual presidente. Ainda que o sr. Luiz Inácio não tenha participado diretamente de toda a maracutaia envolvendo o seu partido, ainda que sequer tenha sabido de toda a lama que está escorrendo sob seu nariz, o certo é que é ele o presidente da República, cabendo-lhe, portanto, a responsabilidade maior por tudo o que vem acontecendo. Essa responsabilidade (aliás, a falta dela) já começa pela escolha dos nomes para os postos-chaves do governo em todos os escalões (cerca de 20 mil nomeados com o único propósito de angariar dinheiro para o partido, através da contribuição "voluntária" de cada um deles, em detrimento do conhecimento técnico que cada área exige), passa pela fiscalização (inexistente) do que fazem esses beneficiados, e continua na tomada de providências enérgicas (igualmente inexistentes) quando qualquer dos nomeados não se mostra digno do cargo que ocupa. Mas não é o que temos visto. A imprensa, fugindo à sua missão de mostrar a verdade, não se cansa de tentar descolar o nome de Lula de toda a sujeira que ronda o palácio, o Congresso Nacional e os demais setores da administração pública. Com isso, o presidente parece uma figura decorativa, um boneco simpático que só serve para atrair votos para o seu partido e, assim, dar-lhe a chance de continuar com suas práticas que, de éticas, nada têm. E olhem que ética foi justamente a bandeira que arrebanhou milhões de eleitores, na vã esperança de colocar o Brasil no rumo da decência política, coisa que há anos não se vê. Perto dos fatos que ultimamente vemos estampados nos jornais, o ex-presidente Fernando Collor de Melo assemelha-se a uma vestal imaculada, o que dá a entender que é a mais pura verdade o que se disse, à boca pequena, quando de sua saída do governo: 1) que ele foi punido não por ter se apossado de dinheiro público, mas por não ter querido repartir o bolo da corrupção com outros abutres e 2) que os "caras pintadas" não passaram de uma bela demonstração do poder de orquestração do próprio PT para tirá-lo do governo. Sim, porque se não fosse a filmagem da entrega de propina ao sr. Maurício Marinho, com a gravação sobre todo o esquema de entrega de dinheiro ao PTB do sr. Roberto Jefferson, a população continuaria ignorando a farta repartição do dinheiro público entre os amiguinhos do poder. E agora, com essa imundície toda, constata-se que o movimento que levou os "caras pintadas" às ruas não tinha nada de "espontâneo". Só mesmo um cego para não ver isso. A sociedade brasileira precisa entender que um presidente da República é o mais alto mandatário do País e que, se as coisas vão mal no seu governo, é ele, sim, o principal responsável por isso. Mas ao invés de punir os envolvidos, que medidas toma o sr. Lula da Silva? Declara sua absoluta confiança no sr. Roberto Jefferson, a quem diz que passaria um "cheque em branco", e sequer uma reprimenda dirige ao sr. Delúbio Soares (tesoureiro do partido, responsável pela liberação de dinheiro para corrupção, inclusive para os "mensalões" a deputados aliados a fim de que sejam aprovados os projetos do governo, segundo reportagem da revista VEJA) ou ao sr. Sílvio Pereira, (secretário-geral do PT, responsável pela indicação de vários nomes para o governo, ainda segundo a mesma reportagem). Todos continuam firmes, fortes e ricos em seus postos, enquanto a imensa maioria da população mal tem dinheiro para honrar seus mais prosaicos compromissos. Que falta de vergonha! Não satisfeito em não tomar medida alguma, o sr. presidente da República ainda manda soltar mais dinheiro para sustentar a "operação abafa" da CPI dos Correios, em absoluta contradição com as lindas promessas de campanha. Sangria no bolso do contribuinte, que terá de arcar com mais esse desatino petista. Enquanto isso, Romero Jucá, ministro da Previdência (um dos ministérios mais ambicionados pelos políticos, não por um desejo de pôr ordem na casa, mas sim por seu altíssimo orçamento, que atrai a cobiça de mais e mais abutres), envolvido até a raiz dos cabelos em imbróglios de corrupção, continua firme no governo, com total apoio de Lula. Enquanto isso, Henrique Meirelles, presidente do Banco Central, igualmente envolvido em irregularidades noticiadas pela mídia, entre as quais remessa ilegal de dinheiro para o exterior, não apenas manteve-se no cargo, como ainda foi premiado com o status de ministro para poder fugir a julgamento por instâncias ordinárias. Nenhum, absolutamente nenhum dos que desde o início do mandato de Lula aparecem na mídia envolvidos em corrupção perdeu o cargo. Afinal, o sr. Lula governa para nós, o povo, ou para seus apaniguados? Mas não é só. Se pensarmos nas outras promessas feitas pelo sr. Luiz Inácio e pelos demais políticos de seu partido (e dos outros que o apóiam também), veremos que tudo não passou de uma enorme farsa para continuar iludindo a população. Nem mesmo os tão propalados programas "sociais" chegaram a obter resultado próximo do satisfatório. Ao contrário: segundo estudos do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), o programa Saneamento Ambiental Urbano, a cargo dos ministérios da Saúde e das Cidades, contou com meros 0,75% dos R$ 932 milhões já autorizados por lei para 2005. Os programas de educação de jovens e adultos só receberam 0,16% dos R$ 637 milhões que a lei lhes destinou. Dos R$ 421 milhões autorizados para o Sistema Único de Segurança Pública, somente 1,83% foram empregados. E o programa Habitação de Interesse Social encontra-se totalmente paralisado. Pergunta que sufoca o gogó: para onde foi o resto do dinheiro? Toda essa bagunça revela o total despreparo do sr. Lula da Silva e de seu partido para dirigir um país como o Brasil. Nenhum dos dois pensa em recuperar as estradas, em aumentar a nossa matriz energética, em construir, enfim, uma infra-estrutura que propicie um desenvolvimento além dos pífios índices que a propaganda petista não se cansa de alardear. Alarde, por sinal, que nem mesmo é adequado, já que se algum desenvolvimento tivemos isso se deveu muito mais à infra-estrutura já existente há anos (instalada pelos governos militares, diga-se de passagem) do que pela execução de projetos sérios de governo no setor, coisa inexistente há mais de 20 anos. As precaríssimas condições em que se encontram nossas estradas servem como um dos muitos exemplos desse descaso. É que falar no "social" dá votos porque conta com o baixíssimo nível cultural de nosso povo, que, coitado, não tem mesmo aptidão intelectual para enxergar que somente com desenvolvimento econômico é que os mais pobres poderão melhorar de vida e se livrar dos "vales" e "bolsas" que só os escravizam. Os mais levianos podem até achar "lindo" ter um presidente-operário, inculto e de fala nada recomendável para o cargo que ocupa. Mas um país, minha gente, não se governa com palavras e com demonstrações de ignorância. Há que se ter muita sapiência, isso sim. Maquiavel, tão querido das esquerdas, já dizia que "o príncipe deve ser suficientemente culto para poder ouvir os seus ministros". E como é que alguém, que mal sabe o idioma, pode entender de saúde, educação, transporte, comércio exterior, relações internacionais, defesa nacional e tudo o mais que envolve o governo de um país, e para cujo conhecimento há que se ter, sim, uma cultura muito acima da média? Está mais do que na hora de o povo brasileiro acordar e ver que, se o País vai mal, os maiores responsáveis por tudo isso são exatamente o presidente da República e o seu partido. A conclusão a que se chega diante dos números das pesquisas para as eleições presidenciais de 2006 só pode ser uma de duas: ou o brasileiro é mesmo um sonhador e sonha tão completamente que chega a sonhar que é vero o discurso de quem mente, ou os números das pesquisas não batem com o atual quadro de desgoverno em que se encontra o Brasil. Que esse povo se arme de coragem, pois, para encontrar, em algum lugar deste país, os novos "caras pintadas", já que os anteriores devem estar todos no governo. Porque se Lula for reeleito, não adianta chorar ou roer as unhas. Sua reeleição significaria, sem dúvida, o aprofundamento da catástrofe que já se abate sobre nós. Nota do Editor: Marli Nogueira é Juíza do Trabalho em Brasília.
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