02 de abril - Dia Mundial de Conscientização do Autismo
Receber a notícia de autismo de um filho é como embarcar rumo a um universo desconhecido. É preciso encontrar a maneira de aterrissar nesse pequeno mundo em que a criança parece estar isolada. O autismo leve pode ser diagnosticado em qualquer fase da vida e não tem cura, mas geralmente ele é percebido na infância quando a criança apresenta algumas características do autismo que podem ser observadas pelos familiares ou professores, por exemplo. Os primeiros sintomas do autismo leve podem ser reconhecidos quando a criança, entre os 2 e 5 anos, já apresenta dificuldades no relacionamento, na fala e na interação com os outros. Meu filho ainda não fala, será que ele tem autismo? Começar a falar e ouvir o primeiro “mamãe” e “papai” enche os pais de orgulho e alegria. E quando as primeiras palavrinhas que normalmente aparecem, por volta de 1 ano, não surgem? “Por que será que ele ainda não está falando?” Infelizmente, ainda, muitos pais adotam o “ah ele tem o tempo dele, espera que ele vai falar!”. Ou os pais assumem essa posição de esperar ou então começam a fazer buscas na internet e acabam se deparando com o autismo. “Mas já o levei ao médico e ele disse que é falta de atenção ou que é apenas um atraso no desenvolvimento.” Uma criança que não fala pode ter autismo? Segundo a fonoaudióloga Raquel Luzardo, especialista em linguagem e atendimento infantil, a comunicação é uma das áreas mais afetadas nas pessoas com TEA (Transtorno do Espectro Autista). O atraso na fala é o sinal de alerta mais comum para o autismo. Mas nem todo atraso de fala é autismo. “É necessário um olhar clínico cuidadoso e uma avaliação criteriosa,” explica. É preciso muito cuidado para diferenciar um atraso de linguagem de um caso de autismo. Os dois casos têm características em comum, mas o TEA apresenta condições específicas como ecolalias (não atender quando é chamado), não fazer uso funcional da linguagem e algumas vezes apresentar hipotonia da língua ou flacidez muscular da língua. As crianças com TEA ainda podem apresentar mais dificuldade na interação social, interesse restrito e comportamentos repetitivos. “A dificuldade de comunicação é um dos pilares do autismo e o atraso de fala é um sinal de que algo não vai bem,” alerta a fono. O autismo afeta predominantemente a interação social, o desenvolvimento da comunicação e o desenvolvimento do jogo simbólico (dificuldade para se engajar numa brincadeira ou para brincar com brinquedos que normalmente as crianças brincam). Os problemas de comunicação das crianças autistas podem ter uma grande variação e podem depender do desenvolvimento social e intelectual delas. Alguns podem ser completamente incapazes de falar enquanto outras têm um vocabulário bem desenvolvido e falam sobre uma série de tópicos do seu interesse. Qualquer programa terapêutico deve começar acessando o ponto em que as habilidades linguísticas da criança se encontra. Embora algumas crianças autistas tenham pouco ou nenhum problema com a pronúncia das palavras, a maioria tem efetivamente dificuldades em utilizar a linguagem. “Até aquelas que não tem problemas em articular as palavras exibem dificuldades no uso da linguagem pragmática como saber o que dizer, como dizer e quando dizer tanto quanto interagir socialmente com as pessoas. Muitas que falam dizem coisas sem contexto ou informação. Outras repetem o que ouviram ou discursos que memorizaram em algum momento. Algumas crianças autistas falam cantando ou usando uma voz mecânica como se fossem robôs,” explica Raquel. O tratamento Existem várias formas de estimular a fala da criança autista e os melhores resultados são conseguidos com o início da terapia na idade pré-escolar e que envolve a família junto com outros profissionais. O mérito é conseguir que a criança utilize a comunicação funcional, ou seja, que ela se faça entender. Para uns a comunicação verbal é possível e alcançável. Para outros, a comunicação por gestos ou por utilização de símbolos ou figuras já é de grande valia. Avaliações periódicas devem ser feitas para encontrar as melhores abordagens e reestabelecer as metas de cada criança. Estratégias para pais e cuidadores de crianças com atraso no desenvolvimento da linguagem · Aguardar, observar e ouvir tudo o que a criança tem para manifestar: gestos, vocalizações e olhares; · Não atuar de forma diretiva e controladora, dando oportunidade para a criança manifestar seus desejos, interesses e necessidades; · Fornecer oportunidades que favoreçam a comunicação e saber aguardar uma resposta; · Usar linguagem compatível com as possibilidades de compreensão da criança; · Interpretar atos não intencionais como se fossem atos comunicativos intencionais; · Não dar automaticamente as coisas para a criança: aguardar que ela tome iniciativa para solicitar os objetos; · Conhecer as capacidades comunicativas típicas de cada criança e saber que é esse recurso que se pode contar no momento da interação com elas; · Solicitar pouco de suas capacidades ou exigir acima do que ela pode responder significa possível quebra de interação por falta de sintonia entre os interlocutores; · Garantir a proximidade física e o contato face a face: esta facilita a troca comunicativa; · Imitar sistematicamente o que a criança faz é uma forma eficiente de chegar ao seu nível: é como sintonizar na mesma estação em que ela opera; · Dar nome as coisas, de modo natural. Nomear sistematicamente objetos e ações aumenta a possibilidade de compreensão, assim como conduz ao uso de palavras novas; · As situações do dia a dia devem ser adaptadas de modo que levem a criança a usar a linguagem como um meio privilegiado de ação; · Criar pequenos problemas cujas soluções impliquem atos comunicativos, EX: dar a mamadeira vazia na hora de tomar o leite, apresentar uma caixa sem o conteúdo que habitualmente a criança encontra dentro dela e assim por diante. Aguardar as atitudes da criança para resolver situações como esta. O que deve ser evitado · Tomar sistematicamente a iniciativa da comunicação; · Ficar testando a capacidade das crianças com ordens e perguntas; · Ficar dirigindo a ação da criança, dizendo como deve agir ou proceder; · Interromper o silêncio que corresponde ao tempo de espera que deve dar para que a criança tome a iniciativa da comunicação; · Ficar falando no lugar da criança; · Falar em excesso sem dar tempo para criança responder ao tomar a iniciativa. O que fazer se suspeitar de autismo Em caso de suspeita de autismo deve-se conversar com o pediatra para que sejam realizadas avaliações que ajudam no diagnóstico. O comportamento da criança deve ser observado pelos seus familiares e também pela escola, se a criança a frequentar. “Em muitos casos o autismo leva muito tempo para ser diagnosticado porque ficamos esperando o tempo da criança e perde-se um período precioso de estimulação”, orienta Raquel.
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