02/08/2025  00h47
· Guia 2025     · O Guaruçá     · Cartões-postais     · Webmail     · Ubatuba            · · ·
O Guaruçá - Informação e Cultura
O GUARUÇÁ Índice d'O Guaruçá Colunistas SEÇÕES SERVIÇOS Biorritmo Busca n'O Guaruçá Expediente Home d'O Guaruçá
Acesso ao Sistema
Login
Senha

« Cadastro Gratuito »
SEÇÃO
Opinião
06/04/2017 - 04h42
Quando a mentira não pode ser aceita
Eliane Basilio de Oliveira
 

O menino de oito anos está admirado com o que viu na televisão:

– Aquela propaganda em que o rapaz limpa uma oficina mecânica inteira dançando não pode ser verdade. Ninguém consegue fazer isso.

Acostumado a ouvir todos os dias que não se deve mentir em nenhuma situação, a criança logo descobre que, no mundo real, fantasiar é uma prática comum. Mais do que isso, os relacionamentos humanos seriam um desastre se não existissem pequenos subterfúgios para colorir o cotidiano. Imagine, por exemplo, que você foi convidado para um jantar com a diretoria da empresa em que pleiteia uma vaga, e que o cardápio é uma iguaria regional que não lhe apetece. É claro que você não vai ser deselegante a ponto de declarar que a comida estava horrível.

A mentira faz parte de todas as sociedades modernas, está entranhada na pragmática da comunicação e na economia dos relacionamentos. Mais do que um fato psicológico, ela é uma prática social. Sua existência depende das situações em que é usada. Às vezes, é plenamente aceita; em alguns casos, é interditada com veemência. Em certos gêneros discursivos, como em determinados tipos de publicidade, existe um pacto tácito entre o emissor e receptor de que a mensagem pode ser um pouco fantasiosa e usar de pequenas “mentiras”.

Por exemplo, ninguém imagina, a não ser a criança, que o detergente da propaganda seria capaz de limpar sozinho a garagem engraxada. No entanto, a “mentira” funciona na publicidade, que nos faz pensar não naquilo que realmente acontece, mas no que poderia acontecer. Outras formas discursivas, no entanto, não admitem mentira, como o jornalismo, os pronunciamentos políticos e as informações prestadas pelo Estado. Nestes casos, o receptor acredita estabelecer um pacto de confiança em que a verdade sempre será dita. O problema é que nem sempre é assim.

No Brasil da recente crise política, há muito mais do que corruptos e carne podre. Os jogos de interesse acabam levando à manipulação de informação, que podem ser comparadas à mentira, a puro jogo de linguagem feito para enrolar o cidadão. Nunca se mentiu tanto em relação ao suposto rombo da previdência, à CLT, ao aumento de impostos, ao desenvolvimento econômico do país. Os políticos que integram o chamado núcleo duro do governo passariam ilesos por um detector de mentira, já que fantasiam a realidade com grande desenvoltura.

O grande problema é que, aos poucos, o cidadão, assim como o menino de oito anos, descobre que está sendo iludido. Mas, diferentemente do caso da criança, a mentira que está ouvindo não é apenas uma pequena fantasia para vender sabão. Mas algo que vai impactar negativamente sua vida e que é vendido como sendo a solução para os problemas do país.


Nota do Editor: Eliane Basilio de Oliveira, socióloga e professora da Universidade Positivo (UP).

PUBLICIDADE
ÚLTIMAS PUBLICAÇÕES SOBRE "OPINIÃO"Índice das publicações sobre "OPINIÃO"
31/12/2022 - 07h25 Pacificação nacional, o objetivo maior
30/12/2022 - 05h39 A destruição das nações
29/12/2022 - 06h35 A salvação pela mão grande do Estado?
28/12/2022 - 06h41 A guinada na privatização do Porto de Santos
27/12/2022 - 07h38 Tecnologia e o sequestro do livre arbítrio humano
26/12/2022 - 07h46 Tudo passa, mas a Nação continua, sempre...
· FALE CONOSCO · ANUNCIE AQUI · TERMOS DE USO ·
Copyright © 1998-2025, UbaWeb. Direitos Reservados.