(I) Não tenho a pretensão de proferir uma verdade cientificamente comprovada, nem de utilizar-me de títulos furados de valor duvidoso para calçar minhas palavras mal escrevinhadas. Aliás, somente imbecis se apresentam como portadores de tais coisas para parecerem sabidos e importantes e, talvez, por isso mesmo, esse tipo de gente, que tanto abunda nessas terras cabralinas, nunca sabem do que exatamente estão parlando apesar de toda a pose de “sinhô dotô” que cultivam com tanto esmero. De minha parte, me darei por satisfeito se conseguir, dentro de minhas jumenticas limitações, descrever os fatos, as cenas, os fenômenos e as inquietações geradas por elas em minha alma suína tal qual elas todas se apresentam ao meu ser e, principalmente, da forma mais sincera que me seja possível. Enfim, resumindo o entrevero: fazer pose e repetir frases de efeito é moleza, até um adolescente metido faz isso. Ostentar um currículo burocraticamente cheio de papéis que atestam feitos duvidosos também não é difícil. É apenas enfadonho, chato pra dedéu, porém, não é o bicho. Todavia, falar com o coração na mão e com os olhos vazados pelas setas da sinceridade é, penso eu, algo realmente digno de ser almejado e urgente que seja conquistado por cada um de nós. (II) Lima Barreto, certeiro com sua pena, como sempre, dizia que no Brasil não existe esse negócio de vocação; o que há nessas terras de Pindorama, segundo ele, é apenas imitação. Trocando por miúdos: dum modo geral, desejamos apenas parecer uma cópia fajuta de algo que consideramos bacana, que pega bem na fita e que, de quebra, dê uns bons trocados. Infelizmente, dum modo geral, não almejamos, jamais, com todas as forças de nosso ser, nos tornar esse algo que em regra apenas imitamos. (III) A palavra empoderamento além de não lhe proteger duma situação de ameaça real, ainda pode, devido à soberba subjacente ao dito vocábulo, colocar a sua alma numa condição de irrevogável perigo, haja vista a forma prepotente que ela e as ideologias que a justificam colocam a carne e o mundo contra e acima do espírito. Pense nisso, sem pressa e sem aquela epidérmica irritação. Caso contrário, se isso não for possível, apenas ignore essa infame escrevinhação. (IV) Uma das grandes causas do desfibramento moral da sociedade atual, que se encontra à deriva em meio a ondas niilistas e maresias hedonistas, é a facilidade com que se confunde a formação duma personalidade forte e estável com uma autoimagem fragilizada, complacente com nossa soberba e vaidade.
Nota do Editor: Dartagnan da Silva Zanela é professor e ensaísta. Autor dos livros: Sofia Perennis, O Ponto Arquimédico, A Boa Luta, In Foro Conscientiae e Nas Mãos de Cronos - ensaios sociológicos; mantém o site Falsum committit, qui verum tacet.
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