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SEÇÃO
Crônicas
07/05/2017 - 05h53
Corte e costura
José Luiz Boromelo
 

Em todos os segmentos da sociedade existem profissionais que se sobressaem em suas atividades. Dependendo da área de atuação, certos comportamentos têm a capacidade de externar o grau de profissionalismo, exaltando (ou não) a satisfação pessoal com a atividade exercida. Especificamente na área da medicina, por sua relação direta com o momento de fragilidade dos pacientes, esses profissionais são naturalmente os mais visados, quando o assunto é atendimento. Nesse contexto se sobressai “Mister M”, um pseudônimo necessário, fazendo analogia àquele habilidoso ilusionista mascarado que encantava multidões e pela necessidade em preservar a identidade deste, poder-se-ia apropriadamente nominá-lo como “Senhor Médico”, em tradução livre para nosso belíssimo e maltratado idioma. O Senhor Médico tem experiência de mais de três décadas na área, portanto, certamente já viu de tudo um pouco. Do alto de sua privilegiada estatura, do semblante sisudo e da vida muito bem ganha pela dedicação integral ao trabalho nesses anos todos, nosso Mister M absolutamente não se constrange em ser curto e grosso.

É sabido que todo paciente tem o direito de ser informado satisfatoriamente (quaisquer dúvidas deveriam ser dirimidas a contento) acerca de sua situação clínica, quando da avaliação médica, mediante a apresentação dos exames solicitados. Ou dos detalhes de algum procedimento, como uma cirurgia, independentemente de sua complexidade. Mas nosso Senhor Médico, diante do diagnóstico de hérnia inguinal (comprovado por ultrassonografia), sequer teve a precaução em solicitar exames básicos complementares como hemograma, coagulograma e dosagem de glicemia, principalmente quando o paciente beira os 55 anos. E ao ser instado sobre isso, não se fez de rogado: “Vá perguntar aos médicos que lhe atenderam, meu negócio é corte e costura”. Perfeito, Mister M. Essa postura demonstra de forma inequívoca uma preocupação ímpar com a saúde alheia, mesmo recaindo sobre sua pessoa (assim como o cardiologista e o anestesista, igualmente omissos e relapsos, porque adotaram o mesmo posicionamento) a total responsabilidade com os resultados dos procedimentos a serem viabilizados. O bisturi afiado de Mister M é especializado em abrir vias de acesso na derme e epiderme para a afixação da tela de polipropileno, procedimento padrão nesses casos. Ponto final. No cotidiano médico, a avaliação de situações mais simples relega esse tipo de procedimento a algo corriqueiro, sem maiores delongas. É assim que os pacientes são vistos por profissionais ao estilo do Senhor Médico. Apenas mais um da interminável lista para cortar e costurar.

Felizmente, nem todos os profissionais da área da saúde agem como Mister M. Certamente o paciente haverá de encontrar aqueles que fazem questão de demonstrar respeito, polidez, paciência e até mesmo certa dose de compreensão perante as atribulações momentâneas das pessoas; atitudes simples, mas que atuam como bálsamo milagroso para quem busca a cura dos males do corpo. Aliás, assim deveriam proceder todos os que, em algum momento da vida, fizeram o juramento de Hipócrates. De nada adianta creditar a culpa pelo mau atendimento ao sistema público de saúde. As reclamações contra médicos que atendem em clínicas particulares mostram que o problema é recorrente. Fica a impressão de que se consideram hierarquicamente superiores aos demais mortais pelo fato de dominarem o conhecimento e consequentemente a cura, tanto que são tradicionalmente chamados de “doutores”. Quanto ao nosso “herói” mal humorado, continua por aí a cortar e costurar gente, enquanto suas mãos se mostrarem firmes o suficiente. E quando finamente se decidir pela aposentadoria, Mister M poderá mudar de ramo, montando seu próprio atelier. Afinal, ele é especialista em corte e costura.


Nota do Editor: José Luiz Boromelo, escritor e cronista em Marialva (PR).

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