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Crônicas
09/05/2017 - 06h33
Nos altos de Mafra
Henrique Fendrich
 

Pois se eu fui para Rio Negro, como não haveria de ir para Mafra? Basta atravessar a ponte, o que é feito com espantosa naturalidade, como se do lado de lá não estivéssemos sujeitos a outras leis, outro prefeito, outro governador. Já estive em Mafra outras vezes, mas há muito tempo, e uma coisa é estar em Mafra de carro, e outra, bem diferente, é estar a pé. Não é uma cidade feita para pedestres, tampouco para ciclistas, e mesmo os motoristas devem primeiro verificar se possuem câmbio e freios em bom estado antes de se aventurarem por suas ruas.

Existe uma região conhecida como Alto de Mafra, mas o Alto de Mafra é uma ilusão. Não existe o Baixo de Mafra. Até a praça da cidade fica numa subida. Para ir à igreja, o cidadão tem que subir um morro tão grande que já chega lá em cima beatificado. O melhor aplicativo para conhecer a cidade é o Google Mountain. Não se pode ficar em pé sem que as pernas escorreguem lentamente. A altitude parece ter contribuído para que a equipe de futsal da cidade vencesse a última Copa Santa Catarina.

Ainda não se chegou a um consenso sobre qual seria o meio da cidade, motivo pelo qual existem três lugares reivindicando o nome de centro para si. O resultado é que não há bem nenhum centro, não obstante os esforços da administração municipal, que chegou a construir um coreto na praça da subida. Mesmo lá, tem-se sempre a impressão de estar a caminho, de ainda não ter chegado ao centro de verdade, e por isso a gente segue em frente, para cima, para o alto, até se cansar e dar meia-volta.

Todo o equilíbrio da cidade encontra sua explicação em uma antiga cruz erguida pelo monge João Maria. De início, eram 19 cruzes, mas elas foram caindo uma a uma, devido ao acidentado relevo da cidade, e só sobrou aquela que está na praça, de onde regula constantemente o nível do Rio Negro para que nunca transborde e inunde a cidade. Em 1983, durante um cochilo da cruz, o Rio Negro subiu quase 15 metros, inundando bairros, destruindo edificações e deixando milhares de desabrigados.

O acesso à cidade de Rio Negro foi interrompido, e com ele a possibilidade de almoçar, haja vista que não existem restaurantes em Mafra. Quem quiser comer precisa atravessar a ponte. Quem quiser dormir a um preço justo também. Quem quiser usar computador, idem. Em Mafra eu apenas trabalhei e caminhei, era em Rio Negro que eu restaurava as minhas energias. O antigo sebo que eu visitava em Mafra na minha infância não existe mais, tem placa e tudo na frente, mas não abre, não funciona.

Em Mafra tem sinaleiro, um único sinaleiro, que é tudo o que a cidade precisa, de resto todos se entendem como em Rio Negro, cada um cedendo e esperando a sua vez. O Papai Noel chegou à cidade justamente no dia em que eu voltei para casa. Tenho razões para acreditar que ele não apareceu e nem aparecerá na triste vila improvisada ao lado da rodoviária, um punhado de cabanas para famílias cheias de crianças que não têm outro lugar para morar. É Santa Catarina, é sul do Brasil, é quase Europa e, no entanto, ali estão famílias entregues à miséria. Tende bom ânimo, foi por vocês que aquele menino nasceu. Tende bom ânimo, crianças pobres de Mafra.

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