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Crônicas
15/05/2017 - 07h02
De pinhões e araucárias
Henrique Fendrich
 

É mês de maio, mês das mães, mês das noivas, mês, sobretudo, do pinhão. Em verdade, ainda em abril já começa a aparecer pinhão para vender, porque a nossa ânsia é muito grande e mal podemos esperar pela chegada da temporada. Mas esse pinhão de abril ainda é um pinhão verde que faz mal, é até crime comercializar. Pinhão, pinhão mesmo, é o de maio. Por essa época já está mais frio, e o contraste entre as manhãs geladas e o sol do meio-dia faz com que as pinhas se dilatem e estourem, jogando pinhão por todos os lados. Ah, falo, falo e às vezes esqueço que muita gente ainda não sabe o que é pinhão.

Pinhão é a semente da araucária, o que não ajuda muito, se a pessoa também não souber o que é uma araucária. A araucária é o pinheiro brasileiro. Tem um tronco que pode chegar a 50 metros de altura, só perdendo para alguns prédios. Apenas no topo é que a árvore se ramifica, dando a ela um aspecto de candelabro. Até mesmo eu sou capaz de identificá-la com facilidade. Pois essa araucária produz de 30 a 60 pinhas. Uma pinha, antes de ser um cacófato, é o órgão reprodutor da araucária. É isso o que estoura e de onde saem os pinhões, que gerarão novas araucárias, mas também serão comidos pela gente.

Dá para comer cru, mas o normal mesmo é comê-lo cozido, eventualmente assado. Só não vá me esquecer de tirar a casca! Em geral se usa um martelo, só que não é sempre que se tem um martelo a mão, principalmente se você comprar um saquinho de pinhão numa festa junina. Ali o negócio é com os dentes mesmos, que de certo era como os índios cainganques também comiam. Dá trabalho, mas, olha, vale a pena, e o negócio ainda é altamente nutritivo. Não se deixe levar pela aparência da casca. Há quem sugira que parece uma barata, mas isso é uma tremenda injustiça, pois o pinhão é muito mais saboroso.

É coisa típica aqui do sul mesmo, mas também tem araucária em regiões serranas do Rio, em São Paulo, até em Minas tem araucária. Há uma região que pode ser vista como “das araucárias” e que não respeita fronteiras geopolíticas. Eu me pergunto se não seria mais adequado usar a vegetação característica do lugar em que nascemos como a nossa própria naturalidade. Isto é, que quer dizer uma cidade? Que sacralidade é essa que damos às fronteiras criadas por nossos governos depois de sucessivas guerras? Que significa dizer “nasci em Santa Catarina”, “nasci no Paraná”, se dos dois lados há araucárias? Meu Deus, o que não seria a Guerra do Contestado se todos se dessem conta dessa incontestável verdade: há pinhão para todos.

A meu ver, seria muito mais acertado que disséssemos que viemos da Araucária, como se diz que alguém lá do norte veio da Amazônia. É por isso que não é exato dizer que eu nasci em uma cidadezinha do Planalto Norte de Santa Catarina e depois me mudei para uma cidade na região metropolitana de Curitiba. A verdade é que eu sequer saí do lugar – continuo sob o domínio das araucárias. Tudo isso daqui é a minha pátria e a minha cidade natal. O resto são políticas, meras invenções dos homens.

E vocês me desculpem se eu termino a crônica por aqui, mas é que a primeira leva de pinhão da temporada já está quase no ponto. Saudações aqui das araucárias!

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