O acaso provém do nada, de uma anônima indiferença ou de uma sabedoria oculta? Percebe–se que há uma energia de permanente alteração, pairando sobre aquilo que sucede, ora sendo do nosso agrado, ora, do desagrado; ora fazendo–nos alegres, ora, tristes. Todavia, nossa reação sempre deseja sentir o que nos alegre. Mas assim não se tornaria enfadonha monotonia, não existindo diferença entre uma coisa e outra? Ao se raciocinar sobre esse desejo, vence a preferência de gozarmos sempre do que é bom. Daí é que falamos da vida, do seu fim, e, mesmo recusando–a, namoriscamos a morte, quando se pressente a grande interrupção. Como aceitar a interrupção daquilo que é bom, para simplesmente diferenciá–lo do que não é bom? Conclui–se que, em vida, a continuidade ininterrupta dos bons momentos jamais acontecerá; contexto que dificulta conceituar o que seja a felicidade. Verifica–se, em vida e nos livros, a coexistência das circunstâncias da graça com as da desgraça, como houvesse um oculto poder das alterações. Os fatos, as coisas e as pessoas entram numa roda viva, movida por uma energia de conflitos, de contradições e também de contratempos. Enfim, o agradável se alterna com o desagradável. Mesmo assim, encontra–se, por ascetismo, diante das agruras da vida, quem vivencie a felicidade... Há realidades que nos causam dores e transtornos, o que categorizamos existencialmente como “absurdos”; perturbações que ameaçam a fé num Deus de bondade, pondo–se a questão: Se Deus é bondade, por que permite o que não é bom? Essa desconfiança ousa formar um deus segundo o interesse de tratá–lo apenas como protetor, idealizando uma religião exclusivamente de segurança individual, reduzindo o divino apenas à proteção pessoal. Deus tudo permite para que o leitor tenha liberdade de errar. Sem essa liberdade, que valor teriam nossos acertos? Deus permite porque permite aos com fé e aos sem fé a pensarem e agirem como eles decidem. A todos é dada permissão, até a de recair no que se diz proibido...
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