Dia desses um amigo que é radical que só a gota serena me censurou porque, segundo ele, eu não teria motivo nenhum para ser feliz, a menos que fosse um alienado incurável. Levei na brincadeira, mas fiquei meio constrangido. Mais: pensando que o amigo tinha certa razão na sua censura.

Chegando em casa fiquei refletindo sobre a observação do amigo. Realmente fui um menino doente, asmático desde os nove meses. Um menino que mais observava do que interagia com os outros, pouco participava dos folguedos da meninada, mas forçava a barra, desafiava a asma, embora tenha sofrido – e ainda sofra – paca. Hoje com a bombinha fica mais fácil debelar as crises. Graças a Deus.

Assim fui sobrevivendo à doença. Mas em outros setores da vida não tive a mesma força, fui um fiasco. Exemplo: nunca fui adepto da ambição, nunca desejei ser um bambambã, nem nunca dei importância ao dinheiro e nem à riqueza. Outro defeito: sou infenso à inveja. Minto, tenho inveja sim de quem sabe tocar violão e cantar, pelejei para aprender tocar violão e no tocante ao canto, sou desafinado até assobiando. Na verdade, nunca tive nem um projeto de vida, fui levando, seguindo, como diz Zeca, deixando a vida me levar,

Pois é, refletindo sobre o que o amigo me disse sou mesmo um coroa vencido, mas de bem com a vida, alguém que aprendeu a viver usando o tempero do humor, rindo até de si mesmo. Viver é perigoso, como disse o escritor, mas não custa viver e procurar ser feliz. E repetir o verso de Gonzaguinha: Viver e não ter vergonha de ser feliz. Ser na vida um eterno aprendiz.

O meu amigo está errado. Inté.