Duas balelas ridículas têm sido repetidas em uníssono pela mídia, dando voz às desculpas dos culpados que colocaram os piores no poder com o seu poder de comunicação, fazendo a sistemática apologia de Lula e do PT por décadas a fio. Quem não se lembra do bordão: "a esperança venceu o medo"? A esperança está sendo vencida pela ladroeira, ora essa. Mas voltemos ao ponto. Uma mentira é que a corrupção derivaria da existência dos chamados cargos em confiança e a outra a que delega à reforma política o poder mágico de disciplinar a nossa classe política dirigente. É ardil antigo dos jornalistas simpatizantes do socialismo fazer tal coisa. É uma técnica de comunicação nojenta, que muito desinforma e deforma o público leitor, preparando o caminho para os sucessores vermelhos dos vermelhos que ora estão no poder, em desgraça. Esquerdistas sucedendo esquerdistas: é esta a sina do povo brasileiro e motivo de todas as nossas tragédias. Isso desde 1985, com poucas exceções. Cargos em confiança precisam existir em qualquer forma de governo ou sistema político. É a maneira pela qual o estamento político, que supostamente expressa a vontade geral em uma democracia, pode assumir o comando do estamento burocrático. A outra discussão é se esses cargos em confiança devem ser preenchidos pelos membros da burocracia ou por cidadãos oriundos da sociedade civil. Aqui há casos e casos. Não tem cabimento, no meio militar, jurídico e diplomático, por exemplo, colocar pessoas sem o preparo adequado e sem o mínimo de convivência com as lides próprias desse tipo de corporação para integrar seu corpo dirigente. Quando muito há que haver um ministro da Defesa civil ou mesmo um chanceler não diplomata. Nem se cogita imaginar um juiz sem o devido preparo na ciência do Direito e com treino específico. Outra coisa é estender a empresas públicas e órgãos e funções distantes do núcleo de Estado a exclusão dos forasteiros das corporações. Seria uma apropriação indevida de poder pela burocracia sobre os governados, a restauração de uma aristocracia sem linhagem e sem nenhuma forma de legitimidade que não ser membro da corporação de ofício. Criar-se-iam cidadãos de primeira e segunda classe, algo inaceitável em uma República democrática. A origem da corrupção está na natureza humana e não no fato de alguém ser, ou não, membro permanente de uma organização burocrática. Ser burocrata não dá garantia de virtude a ninguém, muito pelo contrário. Os exemplos estão aí à sobeja, para serem vistos. É um sofisma evidente. O que determina a máxima corrupção é o máximo gigantismo da máquina estatal, o qual estamos próximos de alcançar, inclusive e sobretudo nos tentáculos que deveriam ficar a cargo do mercado. Menor Estado, menor burocracia, menor será a corrupção. Os acólitos do socialismo nem tocam nessa realidade imediata, óbvia, que deveria ser a bandeira de qualquer um movido por algum grau de patriotismo e senso de bem-comum. Esses agentes da propaganda da causa socialista são moralmente inferiores e mentirosos, fazendo um desserviço ao País ao levantar essa tese falsificada. Quando o Estado cresce demais é inevitável que o econômico fique subordinado ao político. Essa politização da economia leva necessariamente ao paroxismo da corrupção. Não é possível mais, no Brasil de hoje, fazer negócios, especialmente os maiores, sem que passem pelo crivo do estamento burocrático-político. É a chave explicativa de toda a sujeira que temos visto pela televisão nos últimos tempos. A idéia de que a reforma política alteraria substancialmente a taxa de corrupção é também insustentável. Claro, uma reforma que dê força aos partidos, que obrigue os eleitos a manter a lealdade com as propostas de campanha e com a sua agremiação melhoraria, e muito, os costumes, especialmente na esfera parlamentar. Também não creio que financiamento público de campanhas eleitorais acabe com a "caixinha" oculta de que todas temos conhecimento e é o motor de muitas candidaturas bem sucedidas. É outra derivação imprópria e falsificada dos benefícios supostos da reforma política. Até prefiro que continue como está, pois assim o grau de autonomia dos eleitos fica mais reduzido, sendo obrigados a assumir compromissos pelo menos com seus financiadores, o que é legítimo se a lei for respeitada, já que não os mantêm com os eleitores. Achar que algo assim tem o poder mágico de eliminar a corrupção é ignorar o lado escuro da natureza humana. É espantoso ver que um grupo de arrivistas inescrupulosos, que há pouco mais de vinte anos não passava de um aglomerado que conjugava desocupados, ativistas profissionais, subintelectuais revoltados com seus próprios fracassos, jovens sonhadores e enganados, guerrilheiros frustrados pela derrota recente, sindicalistas que fizeram da greve o seu mantra de poder, religiosos que renegaram sua fé e a puseram na política, uma escória variada, conseguiu tomar o poder em um país grande e relativamente sofisticado como o Brasil sem disparar um tiro. Seus membros viraram a nata da elite política, afastando a antiga elite que, pelo menos, era mais bem preparada para governar. Essa escória conseguiu enganar a maioria na maior parte do tempo. Seus membros fizeram da nossa democracia a expressão de uma oclocracia. São eles os atores que estão agora na mídia desempenhando papéis os mais desabonadores. Ficou a lição de psicologia junguiana aplicada: a turma do PT apontava o dedo para todo mundo, acusando-os de serem aquilo que na verdade estava latente neles mesmos, no conhecido mecanismo de projeção da Sombra, aquele lado obscuro da alma que contém e motiva os crimes e os pecados e que só enxergamos no Outro. O macaco nunca enxerga seu próprio rabo. Se soubessem um pouco de psicologia teriam feito melhor apontando o dedo para um espelho. Infelizmente, o seu objetivo não era alagar a própria consciência de si, mas tão somente alcançar o poder. É a sanha mefistofélica demasiado humana. Viam nos outros eles mesmos, o antigo e arquetípico pálido criminoso. Nota do Editor: José Nivaldo Cordeiro é economista e mestre em Administração de Empresas na FGV-SP.
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