A demagogia, dentre seus significados, sofreu uma grande variação de sentidos como a democracia; aliás ambas têm a mesma raiz do grego: demos ou o povo. Demagogia, ab origine, refere-se à "arte ou o poder de conduzir o povo". Teve sentido ético e construtivo, mas os condutores do povo se tornaram condutores de si mesmos à busca dos seus interesses, transformando a política em profissão, com aposentadoria e outras regalias, menos em serviço do povo à conquista dos seus direitos e à educação dos seus deveres. Assim "demagogo" passou a significar o sentido pejorativo de "enganador do povo": aparenta altruísmo, humildade e bondade, mas tirando-lhe a capa de ovelha, descobre-se o lobo voraz, egoísta, vaidoso e ganancioso. Há esperança que, nas próximas eleições, elimine-se parte desses corrutores e enganadores. Todos os corrutos são cínicos, mas nem todos os cínicos são corrutos; sobretudo se alguns desses praticam lampejos do cinismo, filosofia de Antístenes: a felicidade provém da vida simples, dos valores e dos prazeres naturais, e não dos artificiais: riquezas e poder sem limite, apegos, pudores, convenções sociais contrárias à maneira da vida canina; daí kynismós vir de cão (kynos). Também adulteram a genuína prática e significado do cinismo como lhes convém: falta de caráter, indiferença aos valores e à ética, imprudência, desfaçatez e descaramento. Os protagonistas da corrução, nos poderes, têm assumido publicamente a postura, no sentido pejorativo, de serem mais "cínicos" do que "demagogos": publicamente banqueteiam-se com recursos do erário para negociar maquinações, votos, favores e propinas; se são réus, designam seus julgadores; reúnem -se, às caladas da noite, para combinar vantagens e ilícitos; viajam num mesmo avião particular para um mesmo destino, e, cinicamente, "para não parar o país", proclamam-se inocentes e perseguidos...
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