O assassinato de quase uma centena de policiais no primeiro semestre do ano, os tiroteios que aterrorizam moradores e interrompem artérias de alta importância no trânsito mostram que o Rio de Janeiro vive num efetivo clima de guerra. Mas São Paulo, onde o caos não é tão grande quanto o carioca, também é apreensiva com os sucessivos ataques e mortes a policiais, muitos deles abatidos por pura retaliação dos criminosos à sua condição de agente da lei. A crônica das duas maiores cidades do país ainda contabiliza casos de bebês baleados no ventre materno, roubo de veículos – especialmente motos – em plena luz do dia e em locais movimentados. Tudo isso sem falar dos esquemas mantidos pelo crime organizado, cada vez mais ameaçador. O mais perverso de todo o quadro é que o grande combustível da criminalidade é alienígena. Tanto as armas de guerra hoje em poder dos criminosos quanto as drogas por eles comercializadas vêm de outros países e entram clandestinamente pelas fronteiras secas, por aeronaves que voam abaixo da leitura dos radares, desova em nosso litoral de mais de 8 mil quilômetros ou infiltradas em carregamentos de mercadorias. A vulnerabilidade de nosso território pela deficiência de vigilância nas fronteiras ensejou a entrada das mercadorias que potencializam as disputas criminosas e as mortes da população, em particular as dos policiais. Hoje, além das duas maiores capitais, o quadro de insegurança é geral, passando pelas cidades grandes e médias e chegando até as pequenas localidades onde os poucos postos bancários e caixas eletrônicos são dinamitados e, para inibir a ação policial, as delegacias e postos são previamente metralhados pelas quadrilhas em ação. O mais trágico de todo quadro é que não há esperança de arrefecimento do crime. Até porque o governo federal tem cortado as verbas de custeio das polícias encarregadas do controle das fronteiras e das rodovias. Com as forças federais menos ativas na prevenção, a carga de trabalho aumenta para as polícias estaduais, que não podem agir sobre as causas mas recebem os efeitos da chegada das drogas e armas ilegais. Por falta de investimentos, a população morre vítima das balas perdidas e as polícias e seus policiais sucumbem pela falta de recursos ao seu trabalho. A crise brasileira é muito mais do que os grandes escândalos de corrupção e mau comportamento dos políticos. Ela se faz presente na vida de todos os brasileiros e carece de amplas medidas que vão muito além das reformas trabalhista, previdenciária e política que o governo hoje tenta implantar. Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
|