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Crônicas
28/07/2017 - 06h49
O chato e as caraterísticas da chatice
Rangel Alves da Costa
 

Você é chata? Você é chato? Creio que não. Mas se for, saiba que você é uma pessoa irritante, azucrinante, maçante, importuna, insuportável, desagradável, inconveniente. Está-se diante de um chato quando a outra pessoa já não suporta ouvi-lo, já não consegue tolerar tantas inconveniências e baboseiras vindas de sua boca. E nunca muda.

A verdade é que a chatice causa tédio, raiva mesmo. Só mesmo o chato suporta sua chatice. Ninguém mais. Mas também não se pode correr por que há um chato ou uma chata por todo lugar. O chato nunca concorda com nada. E se você concorda com ele, logo ele mudará de opinião só pra lhe chatear. Nunca há consenso, não adianta. Quando tudo parece resolvido, eis que o chato começa novamente a implicar.

A chata é a coisa mais insuportável que existe. Basta que ela desponte numa esquina e outro já diz que lá vem a chatice em pessoa, aquela que não abre a boca senão para dizer besteira ou querer se mostrar como a sabichona. O chato é plenamente evitável em qualquer discussão. E há que ser assim, sob pena de que sobre tudo ele saiba mais, chame a razão somente para si, diga que os outros sempre estão errados. E são exímios em acabar com qualquer encontro. Todos saem, todos evitam ficar.

A chata é conhecida desde longe. Sempre sonsa, silenciosa, chega como que farejando o ambiente. Então começa a reclamar. Isso não presta, está doce demais, está salgado demais, tem açúcar onde deveria ter sal, tudo ao contrário. Só pra azucrinar mesmo.

O chato possui características bastante peculiares. Não concorda com absolutamente nada. Sempre vai de encontro aos demais. Todas as qualidades possuem defeitos irremediáveis. Tudo o que for bom para ele não presta. Mesmo que queira dizer uma coisa, sempre diz outra. Tudo o que diz é para denegrir, para ferir, para macular a vida das pessoas, num inconformismo que chega a ser pedante.

A chata também possui características inconfundíveis. Ao se aproximar, alguém logo diz que já vem aquela chatice, a pessoa mais insuportável do mundo, e vai saindo de fininho para não ter o desprazer de compartilhar sua presença. É evitada por todo lugar. Tem gente que vira esquina, corta quarteirão inteiro, até se esconde, para não encontrar a chata. E quando a encontra vai logo torcendo que ela não puxe conversa.

Ora, o chato ou a chata parecem pessoas do outro mundo. Este não é verdadeiramente o mundo delas. Não era pra ter nascido no lugar que nasceu. Não era pra ter a família que possui. Não era pra viver na condição econômica que vive. E assim por que não gosta de nada de sua realidade, não gosta das pessoas do lugar, destrata desde o conhecido ao desconhecido, parece possuir um rei na barriga: sempre se arvora de ter o que não tem e de ser o que não é.

Chato é aquele que acaba com qualquer festa. Tudo está bem, bonito, agradável, mas basta a sua chegada e tudo começa a desandar. As pessoas vão fugindo pelos cantos, se escondendo, evitando a todo custo que a chatice os alcance. Logo vai dizer que a roupa de um é feia, que o penteado de outra é horroroso, que os salgadinhos estão passados. E vai andando de lado a outro procurando defeitos, falando mal de todo mundo, espalhando impertinências. E sempre se achando a pessoa mais importante do mundo.

Que chatice é dialogar com um chato, conversar com uma chata. Impossível se aprofundar em qualquer assunto. A chatice sempre diverge de tudo. Nada do que a pessoa diga possui validade. Muitas vezes é melhor concordar e sair logo do que ficar martelando razões impossíveis de serem aceitas pelo chato. O pior é quando tudo passa para o lado pessoal e a chatice começar a florear suas qualidades, sem defeitos ou desacertos.

Talvez você seja assim. Ou talvez não. De qualquer modo, será preciso refletir sobre suas ações e atitudes. Orgulho exagerado, vaidade extrema e soberba demasiada, também são sintomas de chatice. Quem é orgulhoso, vaidoso e soberbo, sempre quer estar acima das demais pessoas, e tudo faz para que estas sejam rebaixadas em tudo. E por isso vai maculando imagens para se endeusar a todo custo. Consequência disso é a insuportabilidades que passa a ter perante todo mundo.

Certa feita, um chato chegou perto de mim e perguntei por que não estava de mal com o mundo naquele dia. Acordei de bom humor. Ele disse. Mas em seguida começou a falar que era pobre mas ninguém se vestia como ele, que não era a pessoa mais bonita do mundo mas duvidava que toda mulher não o desejasse, que não era doutor formado nem nada mas por ali não tinha ninguém que soubesse sobre tudo mais que ele. E falou e falou.

Dei razão. E logo pedi licença para sair.


Nota do Editor: Rangel Alves da Costa é poeta e cronista. Mantém o blog Ser tão / Sertão (blograngel-sertao.blogspot.com.br).

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