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Crônicas
21/06/2005 - 09h16
O canto dos olhos da musa
Antônio Azevedo - Agência Carta Maior
 

O Artigo 286 do Código Penal diz o seguinte: Incitação ao crime. Incitar publicamente a prática de crime. Pena: detenção de 3 a 6 meses ou multa. Meu objetivo é outro, mas vem a calhar um parêntese. Esta é mais uma pena branda do Código Penal brasileiro. Suponha que haja incitação a uma matança, ou um genocídio. Os brasileiros não têm idéia própria e com uma incitação adequada podem cometer crimes bárbaros. A pena para homicídio, mesmo qualificado, é curta, de trinta anos no máximo, mas ainda assim há desproporção entre as penas do criminoso e do incitador. Gozado, não? Está acompanhando o que está acontecendo lá em Brasília? Apologia de crime ou criminoso é outro artigo do Código. Art. 287. Fazer publicamente apologia de fato criminoso ou de autor de crime. Pena: detenção de 3 a 6 meses ou multa.

É que nós estamos no mês de junho, que é época das festas juninas e de soltar balões. A alínea "f" do Artigo 26 do Código Florestal diz o seguinte: f) fabricar, vender, transportar ou soltar balões que possam provocar incêndios nas florestas e demais formas de vegetação. É verdade que se trata de contravenção penal e não de crime na acepção mais pura da palavra, entretanto, no Brasil, nada é muito puro, haja vista Brasília. Quer coisa mais impura do que Brasília? O Aurélio diz: "Contravenção penal. Ato ilícito menos importante que o crime, e que só acarreta ao seu autor a pena de multa ou prisão simples". No Código Florestal, a pena para essa contravenção penal é de três meses a um ano de prisão simples ou multa de um a cem salários mínimos. Nada mal, hem?

Bem a propósito, festas juninas, não é? Já reparou na quantidade de músicas dedicadas às festas juninas que exaltam os balões no céu? E elas são lindas! Algumas são verdadeiros hinos das festas juninas. Aliás, o céu à noite coalhado de balões também é lindo.

Se isto não for Artigo 286, no mínimo, é Artigo 287 - parece que o 287 cabe melhor: apologia de fato criminoso. Como as pessoas reúnem-se para soltar balões, elas não soltam balões sozinhas, nós temos aqui outro crime. Art. 288. Associarem-se mais de três pessoas, em quadrilha ou bando, para o fim de cometer crimes. Pena: reclusão de 3 a 6 anos.

O que nós vamos fazer? Proibir as rádios de tocar as músicas juninas tão lindas, tão do gosto popular? Proibir Luís Gonzaga de cantar fogueira e balões em seus xotes ou baiões? Luís Gonzaga é o rei do baião. Vamos destituir um rei? Deixa o homem repousar em paz. Ele deu muitas alegrias ao povo brasileiro.

Proponho o seguinte. Vamos deixar Luís Gonzaga sossegado lá no céu da noite junina e permitir que as rádios toquem músicas que exaltam os balões, mas só as que foram feitas no passado. E que são as mais bonitas. E vamos explicar ao povo que não estamos fazendo nem apologia do crime nem exaltação de fato criminoso. Trata-se de cultura. Na época em que estas músicas foram feitas, não existia no mundo a preocupação com o meio ambiente que existe hoje. Os autores e intérpretes dessas músicas eram inocentes.

O problema consiste em fazer com que o povo brasileiro compreenda esta sutil distinção. O povo brasileiro tem dificuldade em compreender certas coisas, ou Brasília não estaria em polvorosa graças à incompreensão do brasileiro em relação à política.

Na realidade só queria recordar um fato que me aconteceu na juventude. Tinha eu meus dezesseis anos. Ela era linda! Tinha quinze. Muito linda, fantasiada de caipira numa noite de São João, ao redor da fogueira, ficou um tempão me olhando com o canto dos olhos e para a musa da minha adolescência era a coisa mais fácil do mundo compreender que eu morria de vontade de dançar com ela. Outro conhecimento que ela tinha era do fato da minha timidez. Se dependesse de mim não a tiraria para dançar nunca e tomou a iniciativa. Ela disse qualquer coisa mais ou menos parecida com isto, "Vou te ensinar a dançar". E fomos dançar. Ela nos meus braços queimava mais que as chamas da fogueira e a soltei instantes depois de ter enlaçado sua grácil cintura sob a esplêndida blusa vermelha de crepom semitransparente. Pelo menos esta iniciativa eu tomei.

Ela casou-se com outro. Fiquei a ver balões! Eu era muito tímido.

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