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Opinião
10/08/2017 - 07h34
A FLIP não é de Paraty
Laura Abbad
 

Tive o privilégio de acompanhar recentemente a 15ª edição da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty). Digo privilégio porque realmente foi. Meu trabalho viabilizou para que eu pudesse estar lá. Evento que sempre quis participar, mas nunca foi viável.

Como não é para muitos. Além de gastar com a viagem e durante esse período, o viajante precisa usar toda sua destreza e desprendimento para tentar locais para hospedagem e alimentação que não tenham preços exorbitantes. Para isso, é necessário se afastar do centro histórico, ou seja, gastar a sola do sapato ou com táxi e abdicar do conforto.

A parte boa é que realmente a Flip é uma festa e é literária. A curadoria teve um cuidado primoroso ao trazer a diversidade e temas relacionados ao homenageado (o autor Lima Barreto) para programação principal. Para além de Lázaro Ramos, autores negros africanos e brasileiros discutiram racismo e literatura negra ao longo dos cinco dias de evento. A elite, que é grande parte da audiência, precisava ouvir esse discurso. E ouviu.

A programação "paralela" que acontece nas outras casas e espaços da cidade de forma gratuita é tão interessante (se não mais) quanto a tão disputada programação principal. Exposições, cortejos, mesas de debate, espetáculos teatrais, lançamentos de livros e oficinas literárias me fizeram sentir como uma criança na Disneylândia.

Mas nessa Disney, o Mickey não abraça todas as crianças. As paratienses, por exemplo, como disse a secretária da Cultura da cidade em uma mesa, estão em férias escolares durante esta edição e por isso não participaram significativamente. Os jovens paratienses não trabalham nem participam do evento, porque como Paraty não tem Universidade eles não se "qualificam" e pessoas de fora ficam com as oportunidades.

Durante a festa, presenciei adolescentes protestando com cartazes em frente à Casa de Cultura entoando coletivamente "Queremos estudar!", pela volta dos ônibus que os levavam até as cidades universitárias mais próximas (Volta Redonda e Barra Mansa) e que foram cortados pela Prefeitura por falta de recursos, segundo depoimento de uma das jovens da manifestação. Que ironia. A Flip não é de Paraty.

O sociólogo Charles Wright Mills destacou em sua obra "Imaginação Sociológica" a importância de refletirmos o todo sem se desligar da parte. O micro inserido no macro e vice-versa, ou seja, a história da sociedade de um determinado tempo, mas sem desconsiderar o biográfico, a história do sujeito que vive esse período.

Na Flip a festa é literária, é internacional, mas não é de Paraty. Pelo menos não dos paratienses. Talvez o livro de Mills seja uma boa indicação para debate nas próximas edições.


Nota do Editor: Laura Abbad é coordenadora de programação da Fundação do Livro e Leitura de Ribeirão Preto. Licenciada em Pedagogia - USP Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (2015) e Bacharel em Artes Cênicas - habilitação em Direção Teatral pela Universidade Federal de Ouro Preto (2004).

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