Os números de qualquer estatística permitem qualquer tipo de conclusão, inclusive as contraditórias. Noticiou-se dias atrás o aumento de 12% no número de mortes provocadas por policiais militares paulistas em serviço, durante o primeiro semestre de 2017. Foram 313 os mortos, número elevado na visão dos ativistas anti-violência, mas normal ou até baixo se verificadas todas as variáveis da estatística. Um universo de 16 milhões de intervenções, com 56.000 prisões em flagrante, 15 mil recapturas de foragidos e a apreensão de 5 mil armas de fogo ocorridos no mesmo período. Por iniciativa própria, a corregedoria da Polícia Militar investiga todas as ocorrências com mortes ou agravos e sempre pune os policiais quando identificados agindo em desacordo com o padrão operacional da corporação. Trinta dos participantes das ocorrências com mortes deste ano foram retirados do serviço e presos sob a acusação de prática de homicídio. A ação da polícia é traumática por natureza. Quando ela é chamada é porque há problemas que os envolvidos ou a sociedade não conseguiram resolver por conta própria. Sua chegada ocorre, via-de-regra, no momento mais tenso e, por isso, acontecem confrontos, perseguições e mortes, que também vitimam os próprios policiais e, lamentavelmente, não ganham a mesma repercussão daquelas em que morre o transgressor social. Há ainda a problemática dos policiais, tanto em trabalho quanto de folga, serem caçados e mortos a mando do crime organizado ou por desafetos feitos durante o trabalho. É simplista a formação de conclusões apenas com a contagem de mortos, tanto de bandidos ou cidadãos por policiais quanto de policiais por bandidos. O problema é anterior a esse ponto de conflito. Muitos dos transgressores que hoje infernizam a vida da sociedade com roubos, sequestros e outros crimes, são produtos de más políticas que os lançaram à exclusão. A polícia é o último recurso para evitar a degradação total e sua ação, voltada para a proteção da sociedade, tem residuais impossíveis de se evitar. O soldado tem uma série de regulamentos a cumprir visando tornar sua ação menos letal. Mas, de outro lado, quando em ação, tem apenas a fração de segundo para decidir qual atitude a tomar. Como ser humano, é passível de erro e, mesmo assim, quando erra, é severamente punido, alijado da corporação e apenado judicialmente. Se verificarmos o quadro por inteiro, não apenas aspectos que interessem em apoiar teses de violência ou não-violência, a PM paulista tem trabalhado bem, com baixa letalidade e é um exemplo a ser seguido. O ideal será o dia em que não tivermos mais mortes cometidas por policiais e nem policiais mortos por criminosos. Quando isso ocorrer, a sociedade terá atingido aquele estágio de desenvolvimento e paz que todos nós, cidadãos, almejamos... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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