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Crônicas
10/09/2017 - 07h33
Escocês legítimo
Dartagnan Ferraz
 

Não posso, em nome de minha tendência natural de privilegiar sempre o que é mais popular, afirmar que todo uísque é igual. Não é, assim como toda cachaça não é igual. Para mim não há uísque melhor que o Logan, que só tomo quando um amigo rico me convida para ir à casa dele. Quanto à cachaça, a melhor é, disparado, a mineira, Havana, que também só tomo na casa desse amigo abonado. Quanto a vinhos não sou conhecedor, tomo apenas diariamente meio copo do pernambucano Botticelli, a conselho médico. Cerveja não tomo mais, há vinte anos, mas quando tomava a minha preferida era a Brahma, casco escuro.

Bom, mas o que desejo nesta mal traçada é dizer que acho uma bobeira esse auê que alguns fazem em torno de certas marcas de bebidas, é algo exagerado e cafona. É o caso de alguns amigos que vivem posando de experts em bebidas. São metidos a cosmopolitas porque viajaram a alguns países, nessas viagens tipo farofeiro, rápidas e apenas para voltar se gabando, sem saber nadinha da cultura dos países. Vejam bem, falam até de qual vinho é apropriado para tal comida. Disseram sobre conhaques e, claro, sobre uísques, estes têm que ser escocês legítimo. Uns brocoiós que conheci tomando vinho São João da Barra, Castelo e cachaça Serra Grande e Pitu. Agora viraram refinados, até livros sobre vinhos eles estão lendo. Mas de vez em quando rasgo a fantasia deles recordando o passado e dizendo que eles falam mas não entendem patavina de vinhos, uísques e nem das iguarias finas. Mais: que apesar de terem feito viagens de farofeiros não possuem cultura nenhuma. E sempre conto uma historinha verídica da qual eles participaram.

Aconteceu a uns oito ou dez anos, eles já eram metidos a cosmopolitas. Fomos convidados para um forró de latada seguido de samba de coco num sítio da nossa zona rural. Eu nem estava querendo ir, estava meio gripado e frio, era inverno, podia ocasionar um acesso de asma. Mas os sujeitos insistiram e eu fui, eles falaram em raízes, cultura, folclore...

Lá chegando, o responsável pela festa nos recebeu muito bem, um cara arretado. Ficamos na mesa principal onde havia as bebidas "finas", nas outras só havia Pitu. Na nossa havia dois litros de uísque Drury's, uma de Old Eigth e outra de Natu Nobilis. Os caras olharam uns para os outros, estavam putos porque haviam esquecido de trazer uísque de marca famosa. Achavam o uísque da festa indigno de seu paladar refinado. Mais: o gelo era daquele que fica num barril cheio de pó de serra e vão quebrando com um martelo. Era feito da água do açudeco do sítio, não havia a água de coco. Bom, fui logo me alegrando com a alegria do pessoal, a música, forró pé de serra, uma sanfona, uma zabumba e um triângulo, tudo nos trinques. E aí abri o litro de Old Eigth e botei uma dose generosa e uma pedra do gelo do açude. Tomei a primeira, e depois a segunda, achando ótimo, afinal sou fã do Old Eight a ene anos. Os carinhas meio sem graça começaram a aderir ao uísque popular. No começo faziam, pasmem, até caretas, mas tomaram a primeira, segunda, a terceira, se animaram e não pararam mais. Além disso, o dono do sítio meu conhecido de muito tempo, sabedor de que adoro um tira-gosto especial trouxe uma bacia (dessas de lavar o rosto) cheia de piabas assadas com farofa de água com coentro e cebolinha, um manjar dos deuses. Me senti em Shangri-la. Mas maneirei na bebida, o que não correu com os amigos. Eles tomaram todos os litros do uísque popular e rasparam a bacia de piabas. Havíamos chegado mais ou menos as seis horas da tarde e fomos embora de madrugada. Como os sujeitos estavam bêbados demais e não podiam dirigir e eu não dirijo, o dono do sítio nos trouxe na sua camionete. Eles vieram na carroceria. E ouvi os carinhas com a voz embolada dizendo que a festa fora ótima e que o uísque era tão bom que parecia escocês legítimo. A pose de cosmopolita é só fantasia. São mesmo uns matutos igual a mim, a diferença é que eu assumo. Inté.

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