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Crônicas
13/09/2017 - 06h47
`Você não passa de uma mulher´
Marina Alves
 

Mulher preguiçosa, mulher tão dengosa... Assim começa a letra do samba de Martinho da Vila, nos idos de 70. E a partir deste malfadado comecinho, ele só continua enumerando o seu também malfadado pensamento a respeito do universo feminino. Se assim elas, as mulheres, não o são de fato, assim o compositor parece compreender que deveriam ser...

Olhar dispersivo, anquinhas maneiras, um prato feitinho pra garfo e colher. Está servida a comida, a mesa posta. A moça bonita que procura carinhos à própria maneira, sob o ponto de vista dele, de um modo qualquer, é só mais um banquete para os diferentes paladares.

Mas pra não dizerem que não se lembrou das inteligentes, estas são lembradas sim. E aí é citada a mulher de QI elevado, psicanalisada, pós–graduada, com tendência ao trabalho mental. Mas que ilusão! Mesmo pretendendo se destacar pela intelectualidade e buscando o homem de seus desejos — na opinião do autor, um mito — apesar de todo o estudo ela não passa de uma mulher... Ah, mulher! Não há mesmo como escapar ao estigma: “Você não passa de uma mulher”.

Mas que não se discuta a serventia da mulher! Ela é quem faz o almoço e quem faz o café. Sem esquecer que menina–moça também é mulher. A preferência está dada: pra ficar comigo tem que ser mulher... que fique bem claro a quem interessar possa. É assim que a letra que começa mal, termina sem melhorar em nada. Sim, porque a esperança era que o final nos guardasse uma surpresa qualquer... Mas nada! Até o último verso, nada de proveito se aproveita.

Muitos anos se vão desde o lançamento deste samba que nunca me convenceu, mas que vi e ouvi sendo cantado, acatado e aplaudido por todas as gentes, inclusive por mulheres. Muitas até achando ‘uma delícia’ a brincadeira da letra. Mas onde é que está a delícia de se depreciar em tal ordem a figura feminina?

Alguns dirão, os tempos mudaram... Mas os fatos mostram que não foi tanto assim. Talvez venha se desenhando um discurso moderno que caminha a passos lentos, mas não enganam as estatísticas: convivemos ainda com números assustadores em termos de violência, desvalorização, desrespeito e banalização do universo feminino, eis a realidade.

Penso que ainda há muito a ser percorrido, a ser conquistado, até que o pensamento “Você não passa de uma mulher” possa ser superado, até mesmo pela própria mulher, vinda de uma história cultural que, a princípio, não a favorece.

Mas demorar não significa perder a esperança: ainda creio que um dia enterraremos pensamentos como os retratados neste samba — não só pensamentos, mas principalmente, posturas, gestos e atitudes. Que homens e mulheres revejam seus conceitos para caminharem lado a lado, e possamos, enfim, comemorar algo de mais concreto, consistente e verdadeiro nos próximos dias 8 de março, e em todos os outros dias de nossas vidas.

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