Há costumes cruéis que a gente só acredita que aconteceram porque a história registrou. Vejam bem, sempre admirei a China, uma notável civilização antiga, onde a sabedoria sempre foi aliada à paciência e à tenacidade. Mas há - e a história registra - atentados aos direitos humanos que ninguém com um mínimo de sensibilidade pode concordar ou relevar. Não, não me refiro aos excessos da chamada Revolução Cultural e nem as agressões à liberdade de expressão, além da mão de obra quase escrava. A mim repugnou muito mais o que li esta semana numa revista e tirei a prova consultando livros: a tortura cruel a que foram submetidas durante muito tempo as mulheres chinesas. Essa tortura, pasmem, consistia no costume quase generalizado de amarrar os pés das chinesas (desde crianças) até ficarem moças, para evitar que eles crescessem. Mutilavam os pés delas amarrando-os com panos dobrando os dedos para trás, até quebrar os ossos, trocando essas bandagens de dois em dois dias. Quebrando e atrofiando os ossos os pés se curvavam e atingiram apenas o tamanho máximo de dez centímetros. Eram os chamados pés de Lotus. Imaginem o sofrimento dessas crianças e depois já adultas. Achavam que era chique ficar com os pés atrofiados, pequenos. Achavam também que era sensual, mesmo a mulher ficando sem poder andar direito. Para os homens isso causava excitação, era para eles sensual paca, uma atração sexual a mulher com os pés atrofiados. Segundo o raciocínio cruel deles (e completamente ilógico) a mulher com os pés mutilados tinha que andar apertando as coxas, eles achavam que isso aumentava o prazer sexual, deles sem dúvida. Que babacas. Era um ciúme inominável. Uma tortura repugnante. Fiquei revoltado, eu que tanto admirava a China. Mas detesto tortura e tara. Sim, além de tortura, era tara. Esse costume, creiam, ofusca até a muralha chinesa. Inté.
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