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SEÇÃO
Crônicas
23/06/2005 - 15h21
O rato
Artur de Carvalho - Agência Carta Maior
 

Ele nunca apareceu assim, em carne e osso. Pelo menos não para mim. De vez em quando, minha mulher dizia que via a ponta do rabo, ou então os bigodes do focinho. Às vezes, só um vulto, correndo. Às vezes, só uma impressão. Ou alguma coisa fora do lugar. Um pedaço de pão. Uns grãos de arroz espalhados. Parecia que era grande e cinza.

- Mas você viu?

Ver, ver, ela não tinha visto. Mas eu fui me acostumando com as histórias. Chegava à tarde, do trabalho, e minha mulher dizia que achava que ele tinha entrado dentro de casa. Ele ainda não tinha entrado dentro de casa. Só tinha sido visto nos arredores. Na varanda. Na área de serviço. Mas agora, parece que tinha entrado. Era desse tamanho. Peludo, ela achava. Minha filha diz que viu algumas vezes também.

- Viu onde?

Não tinha certeza. Uma vez no quarto dela. Ficou roendo o armário a noite inteira. Ela não tinha visto, exatamente. Mas ouvido. A noite inteira roendo alguma coisa dentro do armário. Ela acendia a luz, ele parava. Apagava, ele recomeçava. Roc Roc. Ela tirava tudo de dentro do armário para descobrir o que diabos ele estava roendo. As roupas, os cobertores, os lençóis, os bichos de pelúcia de quando ela era pequena. Talvez ele estivesse roendo o próprio armário. Minha mulher ouve de vez em quando, também. Mexendo nas panelas do armário da cozinha. Mandava a empregada lavar as panelas todo dia, duas, três vezes. E os talheres. Ninguém bebe ou come nada se não lavar bem. A empregada não ficava brava. Ela até concordava. Só de imaginar ele andando por cima das panelas, dá vontade de jogar tudo fora. Ela já tinha visto também.

- E como ele é?

Bem, ela não tinha visto assim, olhos nos olhos. Mas tinha o cheiro. Ele deixava um cheiro, acho que ele faz xixi para marcar o território, sabe? E fica aquele cheiro, dá pra perceber na hora que é dele. É inconfundível. Ela acha que ele mora no quartinho de despejo, é lá que cheira mais. Talvez tenha até um ninho ali, no meio das revistas e dos jornais velhos. Se marcar, já está tudo roído e apodrecendo por causa do xixi. Tá vendo o jornal como está amarelo? É por causa do xixi.

Não adiantaram ratoeiras, venenos, armadilhas, alçapões, caçadas noturnas. Nada. Ele nunca apareceu, nem vivo, nem morto. Mas todo mundo sabe que ele ainda está por aí.

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