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Opinião
19/09/2017 - 06h46
Internet... e depois?
Irma de Mello
 

Criada em 1990 pelo engenheiro britânico Tim Bernes-Lee, a internet foi a grande explosão daquele ano. Usando um computador e o “www”, tornou-se possível ter acesso a várias informações. A conexão discada estava em quase todas as casas, surgiram vários provedores de acesso e isto deixava todos ansiosos pelo final de semana, quando se tinha tempo de navegar na internet.

Em 2006, o mundo foi apresentado ao Orkut, que logo viraria “febre”. Nos anos seguintes surgiram outras redes sociais e a partir daí já se estava estabelecido o contato virtual entre as pessoas.

Sem dúvida tudo isto trouxe para a sociedade inúmeras facilidades. O homem moderno tem acesso a todo tipo de informação, o tempo todo, e está ligado ao mundo por um aparelho que, hoje, cabe na palma das mãos. Compras, chats, pesquisas, tudo acessível 24 horas por dia. Isto está mudando também a interação entre as pessoas. Aquele virtual de alguns momentos no final de semana, com o advento dos smartphones, ficou fácil demais. Os novos aparelhos celulares se tornaram objeto imprescindível na vida cotidiana e, claro, a internet com suas redes sociais.

Podemos dizer que o ser humano é sociável, mesmo que virtualmente, pois grupos vêm sendo formados. Por um lado, até facilitou a comunicação, a troca de informações. Por outro ponto de vista, podemos nos perguntar qual a mudança que isto gerou para cada um?

Como psicóloga clínica, percebo que há sim uma nova subjetividade em construção após a internet. Crianças que buscam jogos online, jovens e adultos que relatam seus encontros e desencontros amorosos nas redes sociais, a excessiva exposição da figura e a busca de uma identidade que seja aceita na rede, namoros são iniciados e muitas vezes até terminados nos chats.

Enfim, a internet que veio para facilitar, informar, tem também se tornado um mal para muitos, principalmente nossos jovens. Às vezes, confusos e ansiosos pela aprovação nas redes, criam uma autoimagem falsa e passam a viver um “pseudo-self”. Há um processo de transformação nesta subjetividade contemporânea.

Segundo o psiquiatra Augusto Cury, com livros em vários países e autor do best-seller “Ansiedade – como enfrentar o mal do século”, “estamos assistindo ao assassinato coletivo da infância das crianças e da juventude dos adolescentes no mundo todo”. Para ele, nós alteramos o ritmo de construção dos pensamentos por meio do excesso de estímulos, por acesso ilimitado a smartphones, redes sociais, jogos, ou até mesmo excesso de TV. Isto os leva, segundo Cury, a perder as habilidades sócio emocionais mais importantes: colocar-se no lugar do outro, pensar antes de agir, expor e não impor ideias, aprender a agradecer e sentir gratidão.

Por tudo que observo no consultório, concordo com o fator excesso. Tudo que é demais, destrói, adoece e aniquila. O uso exagerado do acesso virtual, seja ao que for, tem modificado nossos jovens. Principalmente no desenvolvimento da consciência crítica, na troca de generosidade, no diálogo, na interação descontraída, criativa e saudável.

Generosidade, gratidão, nunca se falou tanto disto, nunca se foi tão egoísta. A imagem mudou os valores dos jovens e, no virtual, tudo tem se tornado possível. As fotos são modificadas, o perfil inventado, a verdade manipulada, e assim se apresentam superpoderosos. A falta do contato físico facilita a criação de um corpo falso protegido pelo anonimato.

As máscaras se tornam cada dia mais densas. Como podemos administrar o comportamento pós-internet?

Quando algo é novo, está mais exposto ao excesso. Penso que se torna fundamental a busca de um ponto de equilíbrio, através do diálogo, uma conduta familiar de limite, administrando o tempo que o jovem utiliza nas redes sociais e manter a criança longe de internet e rede social sem fiscalização. Dar suporte emocional, tempo com qualidade aos filhos também ajudam. Jamais permitir que um jovem fique horas trancado em seu quarto no computador ou utilizando smartphone. Promover passeios, horários para fazer as refeições longe dos aparelhos eletrônicos e em família. Potencializar o uso da internet como ferramenta de pesquisa e aprendizado.

Infelizmente os impactos negativos na saúde mental dos jovens pelo uso excessivo das redes sociais já estão aí: ansiedade, depressão e solidão. As piores redes sociais são as que focam na imagem, podendo causar sentimentos de inadequação, timidez e obesidade inexistente. Torna-se um vício, tira o jovem da interação social, dando à interação virtual maior credibilidade.

A internet como ferramenta pode ser fantástica, podendo ser um correio, uma biblioteca etc. Cabe a cada um direcionar o uso da rede para ajudar o homem a ficar mais informado. Mas é necessário permitir que as habilidades humanas sejam aprimoradas no contato com o outro, na troca presencial, no aperto de mão, no abraço, na visita, lembrando sempre que não somos ilhas. Crescemos na interação com o outro ser humano. Rede social pode ser uma ferramenta para se trocar mensagens e marcar encontros, mas a verdadeira conexão humana está na troca subjetiva presencial, o melhor chat ainda é “olho no olho”.


Nota do Editor: Psicóloga clínica graduada pelo Miami Dade College e Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), Irma de Mello acumula mais de 18 anos de experiência em atendimento clínico. Natural de São Gonçalo de Sapucaí, sul de Minas Gerais, divide sua rotina entre Belo Horizonte, onde vive há 20 anos e mantém sua clínica de atendimento, e os Estados Unidos (Miami), onde planeja estabelecer-se no futuro. Ao longo de sua carreira, Irma se aprimorou em diversas técnicas, como thetahealing, reiki, terapia floral e hipnoterapia, técnica baseada na hipnose clínica, utilizada por diversos psicoterapeutas.

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