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Opinião
23/06/2005 - 05h45
Ambientalismo sem extremismo
Vanessa Candia
 

Desde o "descobrimento" do Brasil, o meio ambiente grita por socorro. Com a chegada dos nossos luso-conterrâneos, chegava o começo de um drama sem data para terminar. O Brasil, na verdade, nunca passou de um grande depósito ecológico para os países desenvolvidos. Para nos enganar, chamam o País de pulmão do mundo, devido à imensa variedade de matas e afins.

Impressiona o fato que durante tanto tempo nada tenha sido feito sobre tamanho desmatamento. Um dos motivos era a falta de informação sobre a importância de manter um ecossistema devidamente equilibrado. Entretanto, passados mais de 500 anos, algumas mudanças ocorreram tanto em relação à conscientização das pessoas com a importância do meio ambiente, quanto ao estado em que este se encontra. Infelizmente, foi preciso que os recursos naturais quase se esgotassem para que o homem tomasse consciência disso.

Mais tarde que a maioria das outras classes, apesar de sua função social, o jornalismo finalmente tomou consciência da importância do assunto. A primeira manifestação jornalística com relação ao meio ambiente se deu na França, em 1960. A partir de então, essa nova "editoria" começou a se espalhar pelo mundo.

Em 1968, era preso pela Operação Bandeirante (Oban), durante a ditadura no Brasil, o primeiro jornalista a se engajar na causa ambiental, Randau Marques. A prisão foi motivada por uma denúncia de contaminação por chumbo e intoxicação de agrotóxicos. A partir daí, entende-se porque demorou tanto tempo para alguém se atrever a denunciar os crimes ambientais cometidos. Imaginem se alguém apontasse os imensos desmatamentos feitos pelos nossos descobridores, o que poderia acontecer?

Randau Marques, depois de solto, especializou-se no assunto e escrevia sobre questões ambientais no Jornal da Tarde. Sua primeira grande reportagem, que atraiu jornalistas de todo o País e do exterior feita, foi no estado do Rio Grande do Sul. Uma indústria de celulose foi fechada devido à grande poluição que estava causando ao meio ambiente. O maior marco dessa época foi uma foto em que o estudante universitário Carlos Dayrel sentou-se sobre uma acácia que havia sido derrubada em 25 de fevereiro de 1975. O estudante permaneceu ali por horas a fio como um protesto pelo desmatamento irregular.

Depois disso, o meio ambiente passou a ter uma presença um pouco maior na imprensa. Principalmente depois de conferências como a de Estocolmo, em 1972, e da Eco-92, no Rio. No Brasil, o encontro mais importante para o jornalismo ambiental foi realizado pela Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj), em novembro de 1989. Pode-se dizer que movimentos como esses foram pontos de partida desse novo segmento do jornalismo.

Após a Eco-92, a jornalista Eliana de Souza Lima faz a seguinte análise: "A imprensa começou a noticiar mais sobre o meio ambiente. De lá pra cá, reportagens e artigos sobre os mais variados assuntos dentro da pauta ambiental vêm sendo publicados e veiculados nas diversas mídias." Eliana ressalta que, atualmente, os jornais não se recusam a publicar notícias sobre meio ambiente. Para ela, "o meio ambiente é importante demais para que a mídia o ignore".

Focos obtusos

Mas apesar da "boa intenção" da mídia em publicar fatos relacionados ao meio ambiente, muitas vezes isso tem sido feito de forma errada, desviando o foco para o que deveria ser realmente tratado. Matérias relacionadas ao meio ambiente viraram uma espécie de jornalismo-tragédia, ou seja, basta acontecer alguma desgraça ambiental para que vire notícia.

Quando não, publica-se o "jornalismo-emotivo", que sempre anuncia alguma espécie ameaçada de extinção - geralmente com a foto do possível animal extinto com uma cara de piedade que, só de olhar, corta o coração do mais desalmado dos seres humanos. O jornalista Wilson da Costa Bueno, professor de Jornalismo na ECA/USP, diz que "pouco a pouco, os cidadãos, mesmo os de idade mais jovem, irão tomando consciência de que não apenas os micos-leões dourados e as baleias estão ameaçados de extinção e virão integrar esta legião crescente de consumidores (e defensores) da informação ambiental".

Outro problema é o modismo. Isso foi uma preocupação logo após a Eco-92. Com o passar do tempo, contudo, muitos jornais foram encostando essa editoria. Cidoval Morais de Souza, jornalista e professor da Universidade de Taubaté, ressalta que "alguns autores que estudaram esse movimento concluíram que a mídia só reforçou a tese de que o meio ambiente ainda não passou a barreira da moda". Exemplo disso é a cobertura do Dia Mundial do Ambiente, que é "comemorado" em 5 de junho. Nesse dia, toda a atenção é voltada para a natureza. Árvores são plantadas, projetos são realizados, pessoas são conscientizadas, no entanto, isso dura no máximo até a pauta do dia 6 de junho.

Educação ambiental

Qual seria o verdadeiro papel da imprensa para conscientizar a população sobre a necessidade de preservação do meio ambiente? A jornalista Eliana, já citada, afirma que a "mídia precisa conscientizar-se de que ela faz muitas vezes o papel de educadora". A jornalista e doutora em Comunicação Ilza Maria Tourinho Girardi ressalta que "o jornalista precisa estar consciente de seu papel como agente de transformação social". Ilza continua dizendo que essa conscientização só poderá acontecer se "houver uma ação conjunta de cientistas e jornalistas atuando em sintonia com a sociedade brasileira".

O jornalista uruguaio Victor L. Bacchetta, no artigo "Perfil del periodista ambiental", publicado no site Sala de Prensa, traça o perfil do jornalista ambiental como sendo um jornalista de investigação que, por vezes, utiliza o jornalismo científico - um jornalismo educativo, pedagógico. Esse profissional deve ser consciente em cumprir uma responsabilidade social específica e deve exercer com profissionalismo e objetividade, sem confundir com militância ecologista.

Contudo, o jornalista ambiental precisa se esquivar de algumas tentações que essa área provoca. Por ser um segmento no qual são usados muitos termos técnicos, é preciso tomar cuidado ao escrever, pois pouca parte da população tem acesso ao "ecologês" - a linguagem profissional. O jornalista ambiental Vilmar Berna raciocina que "se os jornalistas querem a compreensão e a mobilização da sociedade para os temas ecológicos, devemos adaptar o ’ecologês’ às carências da nossa sociedade, partindo dos temas que a sociedade já domina e conhece para os que precisa conhecer a fim de conhecer".

Muitas vezes a imprensa só reforça a imagem de "ecochatos" que muitos apoiadores da causa ambiental ganharam com o decorrer do tempo. O jornalista Carlos Tautz atribui esse fator à "forma pouco criativa, envolvente e atraente como, regra geral, todos os temas são tratados na imprensa especializada". Nessa questão, reforça-se o fator da linguagem utilizada nas reportagens sobre meio ambiente. E também a falta de informação da imprensa sobre o que realmente é meio ambiente.

Cidoval Morais comenta a qualidade do material veiculado pela mídia. Para ele, essas matérias "não vão além da indignação e do apelo sensacional: a mudança de atitude reclamada não passa pela supressão da ordem nem pela transformação do modelo de progresso". A jornalista Ilza, também já citada, diz que a divulgação de reportagens ambientais tem que "prescindir de explicações claras e convincentes".

Jornalismo radical? Não...

Outra tentação é a de transmitir uma imagem, muitas vezes equivocada, de ativista radical. Isso causa repulsa na sociedade, devido a alguns maus exemplos de alguns defensores do meio ambiente. Wilson Bueno descreve que o "jornalismo ambiental deve propor-se política, social e culturalmente engajado, porque só desta forma conseguirá encontrar forças para resistir às investidas e pressões de governos, empresas e até de universidades e institutos de pesquisa, muitos deles patrocinados ou reféns dos grandes interesses".

Muitas empresas de comunicação resolveram investir em veículos especializados em meio ambiente. Em geral, são pequenas imprensas. O bom desse tipo de veículo é que as reportagens são mais humanizadas, comparadas às veiculadas na grande imprensa. No entanto, o meio ambiente deveria ter um espaço maior e mais freqüente nesta fatia da imprensa, para que a população se familiarizasse e entendesse a importância do tema.

A jornalista Liana Jonh, jornalista especializada em ciência e meio ambiente, confirma que a prática do jornalismo ambiental no Brasil ainda é recente. Mas ela incentiva essa produção de matérias ambientais afirmando que "quem sai do lugar comum e publica o que o Brasil produz tem retorno garantido do público leitor".

Fica como alerta a opinião do assessor de imprensa Ricardo Villar. Ele ressalta que se fossem mencionadas "menos catástrofes e previsões cientificas assustadoras, e mais dicas práticas para o dia-a-dia das pessoas", o jornalismo ambiental estaria alcançando o real objetivo de ambos lados: responsabilidade social do jornalista e conscientização do ambientalista, sem ser radical ou extremista.


Nota do Editor: Vanessa Candia é editora-chefe da revista eletrônica Canal da Imprensa e aluna do 4º ano de Jornalismo do Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp).

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