Depois de negado o recurso por 10 a 1, no Supremo Tribunal Federal, chega à Câmara a segunda denúncia contra o presidente Michel Temer, que agora é acusado de obstrução à Justiça e participação em organização criminosa, ainda com base nas delações dos hoje presos irmãos Batista. Começa outra vez a maratona pelos votos que, em junho, na votação da primeira denúncia, envolveu troca de parlamentares da Comissão de Constituição e Justiça e outros expedientes regimentais, além da liberação de R$ 15 bilhões em emendas parlamentares e outros agrados aos deputados federais. Depois de lida a denúncia em plenário, ela será enviada à Comissão, o presidente terá 10 sessões para se defender e os parlamentares mais cinco para emitir o parecer, que será submetido ao plenário. Lá, para afastar o presidente, serão necessários 342 votos. É de se aguardar que o “preço” já pago pela primeira votação tenha valor também para a segunda, já que o assunto é praticamente o mesmo. Tudo, no entanto, vai depender do grau de estabilidade de Temer, hoje em rota de colisão com o presidente da Câmara, perdendo seu advogado de defesa e sofrendo ataques através do vazamento das delações. Isso sem falar das inquietações na área militar. O presidente segura em suas mãos a batata quente representada pela decisão de punir ou não punir o general que se pronunciou politicamente na semana passada. Esse foi o primeiro pronunciamento de um general da ativa desde 1985, ano da redemocratização. Raciocina-se que se puni-lo, o governo pode despertar a solidariedade de outras lideranças da área e, se não punir, restará com a autoridade arranhada. É bem verdade que o pronunciamento não foi uma incitação, mas apenas a resposta a uma pergunta, condicional à ação dos poderes constituídos que, se não agirem, acabarão por ensejar a intervenção militar. Uma questão de lógica vigente em todas as democracias. Por conta das denúncias, prisões e repercussões, a atividade política está praticamente parada. Há o risco do Congresso não conseguir aprovar nem as necessárias mudanças na legislação eleitoral a tempo de valerem já no pleito de 2018. A reforma da previdência, então, já saiu do noticiário e possivelmente fique para a discussão e encaminhamento do próximo governo. Mesmo, com tudo isso, a economia ainda dá sinais de aquecimento, criando novos empregos e seguindo o seu curso, numa demonstração de que, se o governo não atrapalhar, ainda há meio de trabalhar e produzir. Temos hoje o país em regime de falência política. A nossa decantada democracia ensejou a montagem de uma casta política que não representa os cidadãos e nem a comunidade. A grande reforma que necessitamos é de costumes. Ética, moral e bons princípios constituem o grande remédio. Quanto ao presidente continuar ou ser substituído, é um problema dele e da Câmara dos Deputados. Parece que o povo pouco se importa... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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