Quem conta uma mentira terá de inventar outras sete para sustentar a primeira. O dito popular que se ouve há décadas é cada dia mais presente no Brasil em crise. Os brasileiros restam estarrecidos diante das narrativas sobre roubalheiras e outras irregularidades cometidas por políticos, administradores, empresários e atravessadores. Pior é que tais comportamentos são justificados como necessários para a manutenção do processo eleitoral e de outros esquemas sociais e administrativos que deveriam ter vida e sustento próprios. O resultado é o descrédito generalizado e cada dia maior, impedindo a sociedade de evoluir e, queiram ou não, potencializando a insegurança em todos os sentidos. Só nesses últimos dias a população é bombardeada pela nova denúncia contra o presidente da República (acusado de obstrução à Justiça e participação em organização criminosa), novo afastamento e privação de liberdade do senador Aécio Neves, revelações do ex-ministro Antonio Palocci em sua ruidosa saída do PT, entre outras coisas. O cruzamento de informações dos processos levou o ex-presidente Lula a apresentar recibos que citam 31 de junho e de novembro, datas inexistentes em nosso calendário gregoriano, e nos enseja a especular sobre o que dirão o ex-deputado Rocha Loures e o ex-ministro Geddel Vieria Lima para justificar a mala dos 500 mil encontrada com o primeiro e os R$ 51 milhões localizados no apartamento do segundo. Dirão a verdade ou mentirão? Não é difícil também imaginar o que deve passar pela cabeça de Lula ao negar tantas coisas de que é acusado e a atribuir outras à sua defunta mulher, Marisa Letícia. Até onde as narrativas – tanto do ex-presidente quanto de outros envolvidos – resistirão ao cruzamento de informações? Até onde terão imaginação suficiente para, se contarem a mentira inicial, inventar as outras que se encaixem para acobertá-la? Isso também vale para o presidente Michel Temer e os ministros acusados que, mesmo se safando enquanto têm foro privilegiado, deverão ser questionados sobre as denúncias depois de saírem no governo, a 31 de dezembro de 2018. Se prevalecer o que disseram Joesley Batista e Ricardo Saud, os delatores da JBF hoje presos, que implicam mais de 1800 políticos de todos os níveis e quadrantes do país, teremos muitos anos de processos pela frente. Os próprios empresários delatores e outros que tiverem o que revelar, precisam se precaver para também não caírem na torrente das mentiras de sustentação das inverdades iniciais. Nunca na história deste país tivemos um período de tamanho confronto entre a verdade e a mentira. Pior que hoje os confrontados são os altos escalões nacionais e ainda poderão rolar pela mesma ribanceira os estaduais e até os municipais. Pobre Brasil, precisa encontrar o caminho da verdade e definir a mentira e o embuste exclusivamente como coisas de um passado infeliz. Por mais grave que seja, a verdade tem de prevalecer, até como mecanismo para depurar o meio e dar a oportunidade a renovação ética, moral e política que tanto necessitamos... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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