Já se passou mais de uma semana e a cidade do Rio de Janeiro ainda é foco de atenção não pela realização de mais uma edição do Rock in Rio, evento que reuniu dezenas de milhares de pessoas em torno de estrelas da música pop internacional e nacional, mas sim por mais um episódio da crise da segurança pública: a chamada guerra da Rocinha. A secessão interna em uma das facções do narcotráfico em torno da disputa do mais valioso ativo do comércio de drogas da cidade colocou o Rio de joelhos com cenas dignas da guerra na Síria, com direito à circulação nas redes sociais de vídeos com atrocidades perpetradas por grupos em conflito. De um lado, armas de guerra de grosso calibre, bombas, granadas, milhares de crianças sem aulas e moradores sem condições de voltar ao lar. Isso na região com o maior movimento de pessoas do Rio de janeiro. De outro, uma polícia atônita, sem comando e sem recursos. Um governador apático e estonteado que vem a público dizer que a cúpula dos órgãos de segurança tinha a informação de que a invasão iria acontecer, mas que nada foi feito para evitar um massacre. Se fosse uma piada, seria muito mau gosto. Na situação atual, é escárnio e – capitulado no Código Penal – desídia e prevaricação. Nesse cenário, o Governo Federal, por meio das Forças Armadas, depois da indecisão sobre o pedido de ajuda do estado do Rio e de instalada a crise, entra na guerra tarde demais. Os grupos em disputa já haviam se evadido e a guerra se espraiou da Floresta da Tijuca para mais 14 bairros da cidade. Até quando teremos que suportar tamanha incompetência e absoluto descontrole de quem tem o dever de garantir a segurança e o direito de todos os cidadãos de ir e vir? É a falida política de tratar o problema das drogas, que é fundamentalmente uma questão econômica e de saúde pública, como apenas um caso de polícia. Só os governantes nos mais diversos níveis sociais não enxergam isso. Esse sistema gera morte, desvios de conduta, corrupção e alimenta uma lucrativa indústria de terror. Solução há, mas antes é necessária a retirada do véu da hipocrisia, sob pena de prantearmos e velarmos cada vez mais crianças, jovens negros e policiais. E para que possamos sair do purgatório da beleza e do caos. Nota do Editor: Newton de Oliveira é professor da Faculdade de Direito do Mackenzie Rio. Foi Subsecretário Geral de Segurança do RJ. Especialista em Segurança Pública com cursos em Israel, Reino unido e EUA.
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