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Opinião
04/10/2017 - 06h39
Olho por olho, dente por dente
José Luiz Boromelo
 

Na antiguidade, os habitantes da Babilônia eram submetidos a regras rígidas para o convívio em sociedade, que incluía castigos dos mais perversos. Até a Bíblia faz referência a esses costumes, mas eis que em pleno século 21, pessoas são levadas a ações completamente impensadas, incompatíveis com quaisquer parâmetros de civilidade. Assim foi em Umuarama, quando centenas de pessoas tentaram invadir a Delegacia de Polícia para retirar um preso acusado de raptar, assassinar e ocultar o corpo de uma criança de seis anos. Estabeleceu-se por horas uma confusão que culminou com diversos veículos incendiados, entre eles algumas viaturas policiais e danos no prédio público. O local se transformou literalmente em praça de guerra, com os atos de selvageria assustando os moradores do até então tranquilo município do interior paranaense.

O fator mais relevante que contribuiu para esse tipo de ocorrência, além do inconformismo natural diante fatos dessa gravidade foi sem dúvida, a facilidade de interação nas chamadas redes sociais, que possibilitam em tempo real, a comunicação entre as pessoas. A notícia da prisão do acusado se espalhou rapidamente, gerando sentimentos de vingança imediata naqueles mais exaltados. Com toda a certeza, os participantes daquele infeliz episódio não foram honrados pais de família, cientes de suas responsabilidades na formação moral de seus filhos. Tampouco se viu naquele ambiente degradante as mães de filhos pequenos, não obstante a revolta contida na alma daquelas que compartilham a mesma dor da mãe que pranteia a filha, levada precocemente dessa vida pelas mãos de um psicopata. Também essas, impregnadas de bom senso, souberam manter distância segura da baderna, assim como os cidadãos de bem daquela cidade. Certamente os mais propensos a esse tipo de conduta são os ignorantes alienados, aqueles facilmente movidos por ondas de “indignação coletiva” e os vândalos ocasionais, que se aproveitam de qualquer situação para mostrar suas verdadeiras personalidades.

Há algum tempo se observa nesse País a proliferação de posicionamentos questionáveis adotados por certas figuras públicas que, sabedores de sua influência sobre pessoas menos esclarecidas, se colocam como verdadeiros paladinos da justiça e detentores universais do direito e da razão. Indistintamente todos eles, mesmo que inconscientemente, em sua essência incitam a violência como uma pretensa forma de estabelecer a dissociação peremptória entre o bem e o mal. Se aproveitam dos meios de comunicação, inclusive das redes sociais para divulgar suas ideias radicais, quando da ocorrência de casos graves. Criticam sistematicamente a legislação penal atual sem, no entanto, liderar ou incentivar algum tipo de mobilização efetiva para adequação do Código Penal à conjuntura atual (como a revisão das condições para a progressão de pena, a eficiência e a necessidade do exame criminológico e em casos extremos, uma possível instituição da prisão perpétua e da pena capital). Afinal, são os legisladores federais os responsáveis por mudanças que venham a contemplar os anseios da sociedade, incluindo-se no rol das necessidades do cidadão, a segurança pública. Proferir repetidamente frases de efeito para atrair a atenção e mostrar valentia diante das câmeras não torna o debate sobre o tema mais produtivo, apenas estimula os mais distintos posicionamentos, inconciliáveis com a estabilidade social. Definitivamente, uma barbárie não justifica outra, mesmo considerando a crueldade empregada na perpetração do ato criminoso. Os tempos são outros, bem diferentes daqueles quando os erros eram punidos com “olho por olho, dente por dente”. E até que se prove o contrário, vivemos sim, em uma sociedade civilizada.


Nota do Editor: José Luiz Boromelo, escritor e cronista em Marialva, PR.

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