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SEÇÃO
Crônicas
13/10/2017 - 08h07
Minha avó e minha avó
Rangel Alves da Costa
 

Uma avó materna e uma avó paterna. Já não estão na vida terrena, mas as recordo como se ainda estivesse indo aos seus encontros ou de suas casas eu tivesse saído depois de uma visitinha.

Marieta Alves de Sá, eis o nome de minha avó materna, porém muito mais conhecida por todos como Mãeta. De estatura mediana, foi ficando menorzinha com o passar dos anos e a velhice encolhendo tudo.

Mãeta era de fervor religioso, sempre presente nos ofícios da igreja e tendo santos espalhados por todo lugar de sua moradia. Quando mais jovem, toda vez que ia até a igreja levava uma espécie de cadeira onde se ajoelhava para suas rezas e orações.

Não ia a igreja sem levar o véu sobre a cabeça. Também não se esquecia de seus livros de missa, seus cadernos de cantos e suas promessas. Ao entardecer, quando o sol já havia aminado o queimor, colocava uma cadeira na calçada e se punha a abençoar quem passasse.

Já era viúva desde muito, morando sozinha já envelhecida. Fazia suas compras, tudo preparava no seu dia a dia. Guardava seu dinheiro debaixo dos colchões e nos escondidos dos móveis. De vez em quando colocava em minha mão um agrado qualquer. E já velhinha partiu deste mundo.

Já minha avó paterna se chamava Emeliana Marques da Costa. Dona Meliana, de família numerosa, irmã do ex-cangaceiro Zabelê, possuía um porte altaneiro, de tez morena, forte e encorajada.

Dona Emeliana era também muito religiosa, mas menos de igreja do que minha avó materna. Lembro-me bem de seu belo oratório num canto do quarto, de seus santos e suas imagens sacras. Devota do Padre Cícero, assim que podia seguia em romaria até o Juazeiro.

Irrequieta, minha avó Emeliana gostava de ocupações, ao menos enquanto sua saúde permitiu. Teve uma pequena pousada na própria residência, mas gostava mesmo era de estar na propriedade, fazendo comida boa na casa de fazenda, ao lado dos bichos de cria e do esposo Ermerindo, meu avô.

Tanto minha avó materna como a paterna ficou viúva. Depois da morte do ente amado, a pessoa também muda muito, definha, entristece, padece pela saudade. Minha avó materna faleceu já desde mais de vinte anos, enquanto minha avó paterna desde cerca de três anos.

De resto, um poema e muitas saudades.


Minha avó e minha avó

Quero rezar minha avó
cadê aquele oratório?

quero rezar minha avó
cadê a cadeira de missa?

os santos de minha avó
os terços de minha avó

a religião de minha avó
a tanta fé de minha avó

minha avó Emeliana
e minha avó Mãeta

seu neto ainda procura
aquele oratório bonito

seu neto ainda procura
as relíquias do passado

quero rezar minha avó
preciso orar minha avó.


Nota do Editor: Rangel Alves da Costa é poeta e cronista. Mantém o blog Ser tão / Sertão (blograngel-sertao.blogspot.com.br).

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