"Xingue-os do que você é, acuse-os do que você faz" (instrução de Lênin, o pai do leninismo).
A idéia de que o marxismo-leninismo está subordinado a valores éticos convencionais não resiste ao menor exame. De fato, visto com rigor, os partidos totalitários inspirados nos ensinamentos de Marx e Lênin, antes de se pautarem pelo que se convencionou chamar de uma conduta qualificada pela ética, se impõem pelo uso sistemático de métodos aéticos, ou muito pouco éticos, cujo objetivo fundamental, no frigir dos ovos, tem sido a posse e a manutenção do poder. A simples verificação, em âmbito histórico, do desempenho dos partidos totalitários comprometidos com os seus postulados será suficiente para reconhecer que eles formaram, no século XX, sem a menor sombra de dúvida, verdadeiras usinas de densa criminalidade, vertentes de desvios que levam ao roubo, à mentira, à traição, à violência e ao genocídio. O próprio Marx, em vida (pública, privada ou clandestina), amontoa uma biografia marcada pela ausência de conduta moralmente palatável. O pai do "socialismo científico", qualificado pelos aliados como portador de caráter "difícil, violento e autoritário", ao tempo em que pregava a busca da igualdade pelos "caminhos revolucionários", exercitava, para atingir tais objetivos, a vasta escala de falcatruas, mistificações, calúnias, apropriações indébitas e falsificações. Para Marx, tudo era permitido, desde que o delito fosse cometido em função da "emancipação da classe operária". Talvez por isso o anarquista Bakunin o tenha classificado como "monte de esterco", o socialista Proudhon como "verme falsário" e Karl Heinzen, o companheiro de redação da "Gazeta Renana", como "espírito perverso, que vivia sempre sujo, capaz de tudo, menos de um gesto nobre". Com efeito, Marx traiu a mulher - a aristocrata Jenny - com a própria empregada, Helene (com quem teve um filho, Freddy, que logo tratou de expulsar de casa); adulterou os números de mensagem orçamentária do primeiro-ministro inglês Gladstone (em discurso na Internacional dos Trabalhadores, em 1864); elidiu dados estatísticos dos livros azuis da Biblioteca do British Museum (fonte para a elaboração dos capítulos XIII e XV de O Capital); caluniou deliberadamente Bakunin, tratando o anarquista russo, sem provas, como "agente secreto da polícia czarista"; e, no plano intelectual, para compor a obra apocalíptica, tomou como seu o pensamento dos outros, sem citar fonte ou autoria. No trato com o dinheiro - tema sempre em voga no PT de Lula e Delúbio Soares -, Marx, cuja mãe, Henriette, o considerava parasita, tinha o vício de pedir largas somas por empréstimo e, depois, negar a restituição aos credores (chegou a ser autuado por isso). A sua briga com o socialista alemão Ferdinand Lassalle, por exemplo, cresce quando Marx, protelando saldar um empréstimo contraído, passa a tratá-lo por "judeu negróide afetado". No caso de Lênin - a "cabeça" que criou as "condições objetivas" para a implantação do regime comunista na Rússia -, a sua conduta em nome da construção da "ditadura do proletariado" passa ao largo de qualquer vestígio de moralidade. Sua escala de crimes e desvios é espantosa. Na prática, foi o mentor dos métodos adotados a posteriori por Stalin, Hitler e Mussolini, com a criação de campos de concentração e fuzilamentos em massa, falsificação de documentos e relatórios, fraudes, delações, "apropriações" públicas e privadas e um sem número de violências. Para financiar o IV Congresso da Internacional Comunista, em 1922, e aliciar socialistas europeus, Lênin, já no poder, contratou os serviços do célebre "Camarada Thomas", que dispunha de milhões em dinheiro, jóias e ouro saqueados da burguesia russa para corromper futuros aliados e estabelecer um esquema internacional de espionagem e propaganda (daí, a expressão "ouro de Moscou"). Seguidor dos princípios expostos por S. Netchaiev no "Catecismo Revolucionário", um repositório doutrinário impresso em letras de sangue, Lênin adotou, na URSS, a crença terrorista na "dominação não restringida pela lei e baseada na força", de efeitos deletérios, e que fez o escritor Maximo Gorki afirmar ter "o Camarada Lênin criado gosto pela lama". Com efeito, para alargar o poder, o método bolchevique adotado era, seguindo as regras estabelecidas pelo próprio Lênin, o da "intimidação sistemática dos opositores, que inclui a sua eliminação física". Com o leninismo, inicia-se na URSS uma era de desconfiança, ódio e perseguição aos socialistas (revolucionários ou não), aliados sem os quais Lênin não teria chegado ao poder em 1917, mas aos quais, logo em seguida, tratou de deportar ou simplesmente eliminar. Por conta de tal comportamento, considerado vil, uma militante do Partido Socialista Revolucionário, Dora Kaplan, por ato de vingança (teve um irmão triturado pelo "processo" de expurgo), se postou, em 1918, à saída de uma fábrica e disparou sobre o líder fanático - determinando-se ai o começo da ascensão stalinista. No caso do Brasil atual, lancetado pela exposição dos métodos ortodoxos (e heterodoxos) postos em prática pelo PT - que culmina com o deslocamento de um seu membro-chave, Zé Dirceu, do "núcleo duro do poder" para o campo de atuação parlamentar -, embora o governo, de composição marxista-leninista, se mostre empenhado na "busca da verdade", de fato, em âmbito interno, a preocupação real é com a manutenção do poder, a todo custo, alcançável pelas regras políticas da democracia representativa (voto), mesmo que custe à nação medidas predatórias aos cofres públicos ou concessões à "hipócrita moralidade burguesa" em vigência. Como disse num instante de "autoconsciência" o próprio Roberto Jefferson, o homem-bomba, para o PT, tipos como ele, Jefferson, e - acrescentamos nós - Delúbio Soares e Waldomiro Diniz não passam de prostitutas a serem compradas e, depois de usadas, jogadas na "lata do lixo da história". O importante para a elite marxista-leninista, sob o pretexto utópico da luta pela "justiça social", é a manutenção do governo e da "hegemonia do partido" - e, com elas, o tradicional desfrute do poder. Ou não é assim? Nota do Editor: Ipojuca Pontes é cineasta, jornalista, escritor e ex-Secretário Nacional da Cultura.
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