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Opinião
05/11/2017 - 06h48
Brasil não afundou, mas segue à deriva
Fernando Pinho
 

A cada dia constatam-se, cada vez mais, dúbios sinais que a Economia e a Política emitem a respeito da realidade brasileira. Indistintamente, tanto os cidadãos comuns, com baixo nível de informação e capacidade de processá-las, como os mais capacitados para tal, demonstram sérias dúvidas a respeito das reais possibilidades de acreditar que o pior já passou. A Política e a Economia são indissociáveis, e a segunda vive de expectativas, boas ou más. Independentemente do anúncio de melhora em alguns indicadores socioeconômicos, fica claro para a maioria dos agentes econômicos que, baseados em outras crises de grande magnitude já vividas, sabem que melhoras significativas nos respectivos padrões de bem-estar podem materializar-se somente a partir de 2019, com um novo Presidente, desde que o mesmo tenha como objetivo honesto modernizar o país, sem utilizar-se de medidas voluntaristas de curto prazo, como nos dois últimos fatídicos governos.

O Governo Federal tem conseguido algumas vitórias, com base exclusivamente em abjetas barganhas com deputados e senadores, visando a manutenção de Temer como Presidente da República. O PIB brasileiro voltou a crescer na passagem de julho/agosto, 0,2% (IBRE-FGV). O bom desempenho da agropecuária ajudou o índice, bem como de outros segmentos. A FBCF avançou em agosto, relativamente a julho. O consumo das famílias aumentou 1,8% no trimestre terminado em agosto, ante o mesmo período de 2016, porém o setor de serviços recuou 0,5%. Ocorreu deflação no IGPM, de 1,81% no ano e de 1,3% em 12 meses. Também o INCC decresceu de 0,22% na segunda prévia de setembro para 0,11% na segunda prévia de outubro. Os juros estão baixando rapidamente e a oferta e tomada de crédito crescem modestamente. Nesse aspecto, recentemente, um grande banco privado brasileiro anunciou que sua diretoria havia decidido aumentar acentuadamente o montante destinado à distribuição de dividendos e JCP a acionistas, já que não vislumbravam uma retomada acelerada do crédito no curto prazo e que havia excesso de caixa em relação aos limites prudenciais exigidos pelas regras da Basiléia. Portanto, uma importante diretriz para entender o cenário que se avizinha.

O processo de privatização federal está avançando, mas não na velocidade necessária para que se consiga diminuir significativamente o Déficit Público e a explosivamente crescente relação Dívida/PIB. O processo de privatização de empresas estaduais de saneamento perdeu tração, em função das eleições estaduais em 2018. De 18 estados inicialmente interessados, apenas 7 iniciaram estudos de viabilidade econômica e são apontados como projetos que podem tornar-se editais, no próximo ano. A arrecadação tributária federal cresce marginalmente, também afetada pelas mudanças estruturais na Economia, que permanecerão, independentemente ou não de recessão. Também o índice de informalidade contribui acentuadamente para esse quadro.

A geopolítica mundial deverá continuar benéfica neste e no próximo ano, mas não será suficiente para ajudar um país que continua à deriva, evidenciando indubitavelmente que nossos governantes continuam desprezando a máxima talmúdica: “... quando não se sabe para onde ir, qualquer caminho serve”. No dia 13/10/17, o FMI publicou relatório intitulado “América Latina e Caribe: Em movimento, mas em baixa velocidade”, alertando sobre a incerteza em torno da Política na América Latina depois das eleições previstas para os próximos meses. Registra o texto: “... Em particular, o risco de que se adotem agendas populistas e que se retroceda nos esforços de reformas e ajuste que estão em curso, que essas economias dificilmente poderiam custear, poderia reduzir o otimismo e a incipiente recuperação econômica”. Tal documento enfoca o México, Brasil, Chile e Paraguai.

Há que haver esperança, mas sem perder de vista os sérios problemas que enfrentamos no cotidiano.

O renomado escritor português Eça de Queiroz, autor de diversas obras primas da literatura mundial, escreveu no periódico “Farpas” (1871, há 146 anos) uma severa crítica à sociedade portuguesa da época, que retrata exatamente no que se transformou o Brasil contemporâneo: “... o país perdeu a inteligência e a consciência moral. Não há princípio que não seja desmentido nem instituição que não seja escarnecida. Já não se crê na honestidade dos homens públicos. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria. Os serviços públicos abandonados a uma rotina dormente. O desprezo pelas ideias aumenta a cada dia. A ruína econômica cresce, cresce, cresce... A agiotagem explora o juro. A ignorância pesa sobre o povo como um nevoeiro. O número das escolas é dramático. A intriga política alastra-se por sobre a sonolência enfastiada do país. Não é uma existência, é uma expiação. Diz-se por toda parte: ‘o país está perdido’”.

Nada mais atual!


Nota do Editor: Fernando Pinho (blog.fpinho.com.br) é economista, palestrante e consultor financeiro da Prospering Consultoria.

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