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Crônicas
22/11/2017 - 07h43
O artista maior
José Luiz Boromelo
 

O artista maior deixou o palco. Saiu de fininho, sem dizer uma palavra, um sorriso, sequer um abraço nos familiares e nos amigos mais chegados. Encerrou precocemente sua participação nesse plano terreno de maneira simples e discreta como sempre foi, durante sua abençoada vida. Muito embora absolutamente todos os viventes haverão de atravessar o derradeiro momento em algum período da vida, é por demais injusto partir para a última empreitada sem dar alguma satisfação. Pelo menos é a sensação daqueles que por aqui temporariamente ficaram, quando as lembranças fazem o coração tremular de tristeza. Mesmo sabendo que o tempo se encarregará de curar as feridas da alma, aquela sensação de impotência ante o momento mais inesperado do ser humano provoca diferentes emoções. Porque só quem conheceu de perto um cidadão chamado Antônio Pepato e sua dedicação à música sertaneja de raiz, consegue avaliar a dimensão imensurável da perda desse homem de bem.

Agricultor, exímio músico multi-instrumentista, servidor público municipal, esposo, pai, avô, amigo de todas as horas e para orgulho de seus incontáveis admiradores, maestro da Orquestra Raiz Sertaneja de Marialva. O menino franzino que aos oito anos de idade pegou escondido o acordeom no quarto do pai, foi imediatamente abduzido pela sonoridade incomparável daquele fole mágico. Aprendeu a tocar o instrumento sozinho, uma mostra de que o dom musical florescido na mais tenra idade se tornaria seu companheiro fiel até o último ato. O artista se foi para sempre, mas imortalizou seu nome em dois profissionais reconhecidos no cenário artístico nacional. Os filhos Júnior Pepato, músico e compositor e Eduardo Pepato, músico e produtor musical que seguindo os passos humildes do pai, alçaram voos ainda mais altos.

A história desse homem simples e polido, metódico (o sapato sempre reluzente era sua marca registrada), perfeccionista e bem humorado mudaria para sempre quando, por obra e acaso do destino, foi convidado a participar de uma iniciativa inédita protagonizada pela educadora Antônia Tuca Celeste, então Diretora de Cultura do município de Marialva, que de forma ousada tencionava criar um pequeno “grupo de violeiros”. E no dia 02 de abril de 2009 o primeiro encontro aconteceu na Casa da Cultura, que se tornaria palco de incontáveis ensaios e apresentações. Por mais de oito inesquecíveis anos, seu inseparável Scandalli Super Seis italiano de dupla ressonância ditou o tom das melodias, que encantaram uma multidão de pessoas, de todas as faixas etárias. Com sua habilidade natural no trato com seu semelhante, conseguiu a proeza ímpar de reunir músicos voluntários de idades e personalidades completamente distintas, o tempero perfeito para a receita do sucesso. Assim surgiu e se consolidou a Orquestra Raiz Sertaneja de Marialva, emissária da alegria e da descontração. Os criadores viram enfim, a criatura tomar forma e ganhar a mídia, com a agenda ocupada por sucessivos compromissos em todas as regiões do Paraná.

Por uma travessura do destino, a simbiose perfeita entre o instrumento e seu mestre teve fim no dia 15 de novembro de 2017. Definitivamente, aqui não se aplica a frase ”ninguém é insubstituível”. O magnífico acordeom, agora silenciado no canto da sala parece sentir a perda do grande mestre, do conciliador, do aglutinador, do gentil cavalheiro. Um homem comum, mas dotado de inteligência, competência e sabedoria invejáveis, digno da relevância dos grandes expoentes da sociedade. Nesse dia triste, o artista maior deixou o palco da vida. A música sertaneja perdeu um abnegado incentivador. Perdemos Antônio Pepato, nosso inesquecível maestro.


Nota do Editor: José Luiz Boromelo, escritor e cronista em Marialva, PR.

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